MCU por uma não fangirl: shippar é uma besteira



“Há, no âmbito da imaginação, imagens favoritas
que acreditamos hauridas nos espetáculos do
mundo e que não passam de projeções de uma
alma obscura.”
Gaston Bachelard

Descobri hoje que eu já shippei na vida. Paola com Carlos Daniel, a Ranger Amarela com o Ranger Vermelho, eu com o Cláudio Heinrich, que hoje, pasmem, tem 42 anos. Traduzindo, para você que obviamente sabe melhor do que eu, shipar é desejar que um casal fique junto, seja esse casal provável, possível, hetero, homo ou impossível. 


Assustada fiquei quando passei a ter contato com o fandom de Avengers e comecei a ouvir os mais diferentes ships. E, mais do que isso, saber que as pessoas brigam por causa de relacionamento inexistentes, de pessoas que não existem em um mundo que é inexistente. Fica na minha cabeça a pergunta: por que as pessoas shippam?



Certa de que não vou conseguir responder, e com medo porque, pelo que eu tenho ouvido, não se mexe com o ship alheio, vou problematizar a questão. E Claúdias, peguem suas cadeiras. Sentem no cantinho e se preparem para ter os seus forninhos jogados no chão. 

Shippar é uma besteira

Sério. É duro. É triste. Mas a verdade é que shippar é uma besteira. Isso não quer dizer necessariamente que é algo ruim. Poxa, se a gente torce para que a gente consiga ficar com aquele menino, ou para que a nossa amiga comece a namorar aquela pessoa, por que não torcer pelos nossos amigos da ficção?  

Já shippei e ainda shipo inúmeros casais, em Game of Thones então, em que não há casal impossível, é que eu nado de braçada. Mas, no fandom de Avengers eu não shipo ninguém. Ninguém além de mim e o Tom Hiddleston, lá nos idos anos 2012. Até aí tudo bem, o problema começa é quando as pessoas passam a brigar entre si, criam teams e armam aquela zorra na internet.  



A primeira vez que eu vi uma briga dessas a minha vontade foi falar: “Get a life!”, ou no português do Brasil, “Toma aqui um lote pra você capinar”. 

Mas, a vida me ensinou a ser humilde e parei para tentar entender que universo é esse. Depois de me assustar com muito fangilrling, lançamos a pergunta no Twitter: por que shippar?


Seguem algumas respostas interessantes:

“Ser shipper é você querer a felicidade de um casal que você julga ser o melhor e muitas vezes sofre por isso, porque sempre vai acontecer alguma merda com o seu casal. O pior é quando ele parece ser impossível de ficar junto, mas você trouxa, não vai deixar de shippar e continuar sofrendo, mas a felicidade de ver o seu casal junto é uma coisa maravilhosa.  Ser shipper é basicamente você ser fã, é quase a mesma coisa, mas eu ainda acho que ser fã é mais importante”, foi o que disse a @blwckwidw

“Shippar é como andar de bicicleta. Você vê, tenta gostar e acaba tomando gosto e seguindo com ela. Pode ser uma ilusão ou uma brincadeira, mas se uma shipper vê que a relação funciona, o céu é o limite!”, compara @americaaLady

“Uma obsessão por nada, ou seja, falta do que fazer”, disse @tumncipriano

“Shippar é quando você olha pra dois personagens e não sabe se quer eles se pegando em uma parede ou abraçados vendo um filme”, @khaleeesi_

Minha primeira observação é: gente, qual é a necessidade desse sofrimento todo? 


Minha segunda observação é: shippar diz muito sobre nós mesmos. Não acho, e agora vou utilizar meus conhecimentos de psicologia de botequim, que escolhemos casais para shippar aleatoriamente. Isso tudo vem de uma relação de projeção e correspondência. A gente projeta naquela relação imaginária o que não conseguimos vivenciar em nossas próprias vidas e seguimos com isso. 

Pesquisando um pouco o conceito de projeção, encontrei os postulados de Jung que, acho, vão de encontro ao que quero mostrar. No artigo O Mecanismo de projeção na interpretação psicológica da alquimia, o autor afirma que “No contexto junguiano, a projeção é compreendida como um processo de dissmilação no qual um determinado conteúdo subjetivo é transferido e incorporado a um objeto externo”. Esse processo seria uma das etapas de estruturação e desestrutução das representações individuais e coletivas de si e do mundo.  

Representação é um termo sobre o qual já falei, já expliquei a necessidade de nos sentirmos representados em um outro post. E esse conceito também se faz necessário quando falamos de ship.

Nós não shippamos personagens que odiamos, shipamos personagens com os quais de alguma forma relacionamos, achamos que temos algo incomum. Tem um pouquinho de você em cada personagem que shippas. Desta forma, quem você shipa diz muito de você. 

Ok, mas continuaremos shippando


Diz muito sobre você também sofrer pelo ship, sofrer pela série. Ora, para mim, essas coisas não poderiam ser motivo de sofrimento, mas de alegria, de dissociação meio que parcial da realidade. De fato, o são. A gente não vive o nosso dia a dia na tela, mas inconscientemente, como o Jung disse, leva isso para os nossos personagens. Ao criar universos alternativos, fanfics e outras coisas damos vazão não só a nossa criatividade, mas também a necessidade de vivenciar certas situações. 

Tem gente que shippa porque gosta de criar histórias. Tem gente que shippa quatro pessoas porque gosta de criar histórias absurdas. Não há mal nenhum nisso. O problema tá quando o ship se torna maior do que a sua vida, motivo de discussão no Facebook, no Twitter... Porque a verdade, gente, é que shipar não muda nada em nossas vidas e é algo que deve existir para nos fazer feliz, não trazer angustia. Se tá trazendo angustia, sai do computador, pega um telefone e vai procurar um terapeuta. Cê num tá boa não.

Caso contrário, tá tudo bem. Continuaremos shippando.




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