MCU por uma não fangirl: empodere-se você também





Minha postagem hoje vai ser bem diferente, vou dar o #paporeto - sem censura e sem amarra - sobre empoderamento. Um texto que surge muito da minha necessidade de falar e escutar o que as pessoas pensam sobre isso e não pretende, e está longe de, ser a opinião unânime e final do Vingadores da Depressão sobre o assunto. É uma avaliação momentânea que faço sobre o empoderamento considerando questões de gênero e raça, e, por fim, ressaltando como o empoderamento é necessário.

E o que isso tem a ver com a Marvel, os filmes e os quadrinhos? Tudo. Visto que é característica da Marvel, e do universo NERD, negar esse poder à mulher.

Tenho muito cuidado para que meu discurso não saia de um lugar viciado, que possa parecer vitimizado, fragilizado e, por isso, facilmente refutado. Entretanto, minha proposta de análise parte  do meu lugar, da minha inserção no mundo, e pretende ser comedida, mas nem por isso menos contundente. Por isso entendo que só posso falar a partir do meu lugar,da minha experiência, isso faz com que seja necessário dividir  algumas informações pessoais, coisa que eu não gosto de fazer, mas, acredito que a situação pede. É um texto muito honesto, um desabafo na esperança que as mulheres se empoderem mais.

O que eu sei sobre empoderamento?

Muito pouco. Li umas coisas aqui e ali, mas não estudei isso profundamente, não posso apontar esse ou aquele teórico. O que ficou mesmo foi a interpretação da palavra que ficou em mim. Empoderar  é algo tão novo que o Word nem reconhece, mas o termo é autoexplicativo, quer dizer dar poder, ter a facilidade, a possibilidade dê.

Pois bem, não é porque você é mulher que é incapaz, a sociedade reconhece a sua capacidade. Não é esse o problema. A questão é que ao nascer mulher, você naturalmente é concebido como um ser com menos possibilidades, um indivíduo menor, com uma série de impedimentos e "inclinações naturais" que vão lhe impedir de chegar a lugares, fazer certas coisas.

Trocando em miúdos eu to falando aqui de questões como: "A mulher sempre vai estar ligada mais à família", "O instinto materno é algo que não pode ser controlado", "Mulher não gosta de homem, gosta de dinheiro". Chame-me de feminazi, fale que eu estou criando caso por coisa simples... Não importa. Se você é daqueles que não teve direitos básicos negados por causa do que traz entre as pernas, você não tem direito de apontar que o outro está fazendo mimimi.




Volto, então, ao empoderamento. Empoderar é uma forma de dar poder àquele que não tem. E o mais legal desse termo é que o empoderamento não é algo que é dado pelo outro, você se empodera. Não tem ninguém que vai fazer isso por você. É contigo mesmo, miga. 
Não sei se você sabe, mas ¾ desse blog é negro. Como mulheres negras, e pobres, falamos de um lugar triplamente "desqualificado", sem poder. Há, então, uma necessidade dupla de emponderar-se. Não há qualquer vitimismo na minha fala, apenas uma constatação. Pode procurar aí no IBGE, no Data Folha e dar uma olhada nos supermercados, nos shoppings. As mulheres negras são as que menos casam, as que mais se encaixam no subemprego, as que mais morrem, as que mais são mães solteiras. Veja bem, gente sem vergonha, preguiçosa, mau-caráter, tem em todo lugar. Acreditar que cabe sempre à negra estar nessa posição, é simplista e ignorante. 

Para a mulher negra, muitos diretos básicos são negados. Como, por exemplo, ter o seu cabelo natural. "Ok, Gabriela, mas ninguém obriga a mulher a fazer chapinha, a fazer progressiva a alisar". 
Não, claro que não. Mas, sejamos honestos. Em um mundo em que você não está representado - não tem ninguém como você na TV -, em que o seu cabelo é motivo de piada, em que TODOS, TODOS ao seu redor têm cabelo liso... alisar é imperativo e, muitas meninas, quando criança, não têm nem a escolha. Alisar cabelo para a menina negra é tão natural quanto tomar vacina de gotinha.

Hoje em dia o traço maior de empoderamento é assumir o cabelo afro - veja bem, assumir o cabelo com o qual você nasceu-, uma tarefa difícil e de muito sofrimento. Fico feliz porque a cada dia, vejo aumentar, principalmente em grupos do Facebook, o número de mulheres que busca se aceitar e deixar de ser escrava da chapinha e da guanidina. Aqui no blog, todas as três estão nesse processo de ditar as regras da sua própria vida, por mais sarará que ela seja, e ignorar todas as Falsiane ao redor.


E o que a Marvel tem com isso tudo?

O emponderamento está intimamente ligado à questões de representação. Um ser com poder, reconhecido socialmente se percebe em todos os lugares. Conta para mim quantas personagens negras você já viu em um filme dos Vingadores? Não é de se admirar que sejam tão poucos considerando que a base de todo o universo são os Estados Unidos, país com grande parte da população negra? Então não venha me falar que a Marvel mostra aquela população.

É importante que a gente se veja lá. Lembra daquele rebuliço com a Viúva Negra? Aquilo não foi sem razão... Aquilo ignorou uma parte importante do público de Avengers, tratou a mulher como um objeto que só pode usar a sexualidade de forma exploratória, predatória, e, o pior de tudo, a sexualidade da mulher é vista como algo feio.

Mas, nem sempre a Marvel erra. Acerta lindamente com personagens como Tempestade, Night Nurse e com a própria Viúva Negra. 


Meu processo de empoderamento e por que empoderar-se

Desde girininha a minha situação como mulher, e mulher negra, foi, de certa forma, muito clara para mim. Durante muitos anos achei que um dia a gente ia poder mudar de cor - tipo o Michael Jackson - e eu poderia, enfim, ter os olhos da Angélica. Ao mesmo tempo eu só gostava de brincadeira de menino e morria de inveja dos homens, que podiam andar sem camisa. Ou seja, desde criança alguma coisa em ser quem eu era me incomodava. Eu queria ser outra pessoa. Isso para uma criança é muito cruel. Diria que mais cruel até que bullying.
Com o passar do tempo acostumei, orgulhosa, a ser a única mulher ou a única negra nos lugares. Hoje vejo quão pouco mérito tive nessas coisas e o quanto perdi por não ter as minhas companheiras nesse lugar. Percebi, já adulta, que não foi exclusividade minha ser ‘a única’, e que minhas experiências eram mais comuns do que eu imaginava.

Hoje, aos 27, todas essas questões sobre empoderamento estão latentes e muito por causa do meu namorado. Ele não me fez ler o Manifesto Comunista ou Madame Bovary, mas ele não é brasileiro. Por isso, eu preciso fazer um exercício pouco comum nos relacionamentos: apresentar, e explicar, meu mundo, meu universo para outra pessoa, com vivência e experiências completamente diferentes. Ao falar muito do Brasil, percebo bastante de mim, me orgulho e reconheço a necessidade de me afirmar-me como um cidadão completo. E como fazer isso, se aceito que diante dos meus pares eu seja reconhecida como um ser potencialmente menor?

Ao mesmo tempo, percebo muito da minha sociedade ao relacionar-me com ele.

Dia desses a gente estava no supermercado e eu o ajudava com as compras. Um senhor se aproximou e me perguntou se eu trabalhava lá. Essa não foi a primeira vez, dentro de uma loja que me confundiram com uma atendente. Amigas brancas, quantas vezes isso já aconteceu com vocês? Sabe quando é que isso vai acontecer com meu namorado? Nunca.

Direto as pessoas nos abordam para perguntar se ele é ou não daqui. O brasileiro, simpático como só, quer saber o que ele faz no Brasil, se gosta daqui. Para mim, irmã pátria do curioso, a curiosidade se transforma em questões como: 'você é tradutora dele?', 'deve ser muito legal ter um amigo gringo, que bom que você consegue ajudar ele'.




Tudo isso me mostra que é imperativo emponderar, contribuir para a consolidação de uma sociedade em que eu não seja reconhecida primeiramente como uma caça-dotes, que eu possa ser considerada interessante ou bonita o bastante para não ser a tradutora ou amiga e sim a namorada.

A minhas história não é particularmente triste ou chocante. É, na verdade, muito de boas. Claro que tudo isso me incomoda, que eu fico pensando até quando essas coisas vão acontecer e hoje eu sei que vai ser assim pra sempre. Penso nos meus filhos, que vão ter que passar por isso também. Por isso é preciso emponderar.

Nenhuma dessas dificuldade, contratempos, chame como quiser, impedem o meu empoderamento, que, ao me ver, é uma maneira de esclarecer os ignorantes e revelar a eles seus preconceitos. E eu não vou assumir a postura de revolucionaria aqui. Não o sou. As mulheres mais feministas que eu conheço não precisaram nunca de escrotizar ninguém, odiar homem ou a sociedade.

Então, meninas, empoderem-se.

Por mais que tudo te faça acreditar que você não pode, que lá não é o seu lugar... Não cabe a ninguém, além de você, apontar esse tipo coisa. Você provavelmente não vai alcançar todos os lugares que deseja, mas pode alcançar lugares que não espera. Assuma a sua vida com toda as alegrias e tristezas que lhe são pertinentes e não esmoreça.

Eu vou tentando daqui e você tentando daí, combinado? 

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