Na cama com Jessica Jones - Avengers: Random & Fandom [+18]

Nota da autora: 2016, ano novo e coluna nova! Bom, não é bem que eu vá mudar de coluna nem nada, mas vou tentar testar um novo formato para coluna, que misture um pouco essa minha pegada acadêmica com experiências da minha vida e também espero poder ouvir mais os leitores e escrever sobre tópicos que interessem mais vocês. E também pretendo trazer as HQs para a coluna, acho que tem muita coisa interessante que vale a pena ser explorada aqui.
A coluna de hoje já está nesse novo formato, e é sobre uma série que provavelmente vai render bastante assunto aqui, porque eu simplesmente amei de todo o meu coração.


Sim, a coluna de hoje é sobre a nossa detetive mais amada do universo Marvel:  Jessica Jones <3 COM SPOILERS

Escolhi falar sobre um aspecto que eu não vi ser muito explorado em textos brasileiros sobre a série: Representação da sexualidade feminina. Jessica Jones é o marco e o início de uma era na Marvel TV e nas produções (de cinema e TV) de super heróis. 

Primeiro, vamos falar de antes, o que veio antes na questão sexual nos filmes de super heróis: Quase nada. Sexualmente, os super heróis da Marvel e da DC são praticamente neutros. Há a fama de cafajeste de Tony Stark, mas é praticamente superficial, porque não há maiores detalhes. Capitão América (até onde sabemos, né Tasha?) é virgem. E embora, os super heróis tenham seus pares românticos (casais héteros), não há sexualidade ali. A explicação pode estar no fato do grande público infantil atingido pelos filmes de Marvel e DC, mas sinceramente, acho muito inexplicável a naturalização da violência e a mistificação/inacessibilidade do sexo (na sociedade como um todo).

Eu consigo lembrar aqui de duas exceções: Watchmen tem uma cena explícita de sexo (mas o filme tem classificação +18) e até um cego consegue ver (E SENTIR) o sexo escorrendo da Selina Kyle da Michelle Pfeiffer em Batman Returns. 

Entrando especificamente na sensual e sexual Mulher Gato da Pfeiffer, nós temos muitos problemas, quando você fala em sexualidade feminina. Eu amo-adoro, sou louca-apaixonada pela Mulher Gato (tanto nas HQs quanto nos filmes e séries), mas não pode-se negar que a Mulher Gato da Michelle e do Burton é feita de um homem para outros homens. Tudo indica: A roupa em vinil, o fetichismo, a sensualidade dotada da fantasia de um gato, absolutamente cada aspecto do personagem foi projetada para apimentar a imaginação masculina. E a sexualidade de Selina ainda está vinculada ao romance com Bruce/Batman, embora eles não fiquem juntos. E não preciso nem dizer que o ato sexual entre Batman e Mulher Gato é só uma promessa, Burton não poderia nunca colocar algo sexualmente explícito nos anos 90. 




Acho que já deu para entender um pouco porque Jessica Jones é tão importante quando falamos sobre sexo e, mais especificamente, sexo de mulheres para mulheres. Porque Jessica Jones é criado por uma mulher, Melissa Rosenberg. A própria Melissa diz que uma das coisas que ela mais ama na Jessica é que ela não se desculpa por nada: "A sexualidade dela e os poderes dela são simplesmente fatos.". Essa simples frase explica muito de porque Jessica Jones é tão importante quando a gente fala de sexualidade feminina que realmente empodera a mulher, ao invés de objetificá-la. 


Então, vamos falar um pouco sobre sexo e sobre a minha experiência enquanto mulher que adora sexo, desde a mais tenra puberdade  Eu tive muito da minha visão sobre sexo, eroticismo e amor moldada pela visão masculina, porque simplesmente, cinco-sete anos atrás era quase impossível você achar material erótico para mulheres. Hoje em dia, com as redes sociais, vemos isso com facilidade. Também tive muitos traumas com a separação dos meus pais, o que se reflete até hoje em mim, embora eu esteja superando isso. Mas, sinceramente, desde os dez-doze anos eu gostava de pensar em sexo, assistir pornô, me masturbar e, depois que fiquei mais velha e entrei para a graduação, adoro ir ao sex shop, e sempre fui obcecada em ter orgasmo daqueles de ver outras galáxias. Mas eu simplesmente moldei minha visão a visão masculina, porque ninguém em casa nunca sentou comigo para conversar sobre isso, ainda mais vindo de uma família puritana com pai japonês (nascido no Japão), ou seja, duplamente puritana. Minha educação sexual foi baseada em ficar acordada até tarde para ver o Cine Band Privê (ADORAVA Emanuelle, ainda mais no Espaço e na Tailândia) e o Cine Belas Artes, ler Marquês de Sade e Anaïs Nin. Mas era sempre um escândalo quando a minha família descobria camisinha, anticoncepcional e produtos do sex shop na minha bolsa, mesmo quando eu me tornei uma mulher universitária que trabalha para ajudar em casa desde os quinze anos. Meu grande fascínio pelo sexo e pelo prazer sexual sempre veio do fato de aparentemente, a minha família, os caras com quem eu me envolvia e a sociedade como um todo estarem me proibindo de chegar a isso. Mas sempre fui boa em quebrar regras. 

Então, vocês não têm noção do quanto eu AMEI as cenas de sexo em Jessica Jones. 

OLHA ISSO GENTEEE!

Não só pelo fato de serem realistas, diretas e cruas, vívidas e cheia de um desejo e químicas tão intensos que você praticamente se sente arrastado e invadido pelos momentos entre Luke e Jessica. Temos vários textos falando sobre isso, mas para mim o que realmente foi importante foi ver a Jessica como uma mulher sexualmente dominante, com um apetite sexual enorme e independente de vínculos amorosos (por mais que haja romance, mas é mais uma consequência do sexo do que a rota normal de amor leva ao sexo). Eu achei isso fantástico, porque sou praticamente assim. Em geral, os caras pedem penico para mim. 



VAMOS FALAR SOBRE A CAMA QUEBRADA, EU PRECISO FALAR SOBRE A CAMA QUEBRADA!

Eu acho muito fantástica essa cena! A Jessica está por cima, o que já é bem revolucionário, pois, recentemente, o governo do Reino Unido queria proibir cenas de sexo onde a mulher fosse dominante. Para vocês verem o quanto o prazer feminino é censurado e monitorado até mesmo pelo Estado. Isso no século XXI. E a Jessica está cavalgando o Luke furiosamente e suponho que com toda a força que ela possui. É tipo uma das cenas mais sinceras sobre sexo e arrebatamento, entrega e dominação femininas que eu já vi na minha vida toda (E olha que de sexo e pornô, eu entendo). Para mim a cama quebrada é uma metáfora sobre a liberação do poder sexual feminino da Jessica. O fato de ela não se importar com isso e continuar cavalgando o Luke, só indica aquilo que a criadora da série falou: Jessica Jones não se importa e não pede desculpas. 


Também temos a cena do Simpson fazendo sexo oral na Trish, que eu acho espetacular, pois temos pouquíssimas cenas explícitas de oral em mulheres. O prazer explícito da Trish recebendo oral também evidencia o fato básico desconhecido de muitos homens: Que mulher goza principalmente pelo clitóris. Desculpa, mas aquele papo de penetração britadeira enlouquecendo mulher É MENTIRA! O fato de não termos muitas cenas como essa da Trish também evidencia essa negação e censura do (verdadeiro) prazer feminino. 



Outro ponto interessante é a representação lésbica: Temos a tensão sexual e a cena explícita entre Pam e Jeri, e o conflito delas enquanto casal com a ex-mulher de Jeri. É outra coisa fantástica, pois colocar lésbicas numa produção de super heróis e mostrá-las de forma não-objetificada é realmente inovador. Mais: mostrá-las enquanto casal estável e com conflitos é algo que pouquíssimos seriados (voltados para o público em geral) fazem e é algo que a Netflix está se tornando mestra em fazer. Nota 10 para representatividade. 

Esperemos que a segunda temporada continue a altura da primeira e continue representando bem a sexualidade feminina e o prazer feminino sem pudores.

Enquanto houver Jessica Jones há esperança. 



Referências: 

Jessica Jones Cast and Crew On The Show's Unprecedented Sex Scenes.

Why the ‘Jessica Jones’ sex scenes are a game-changer for TV.

The Power of Sex on Marvel’s Jessica Jones [Spoilers]

Beyond Bed-Breaking Sex: Jessica Jones and Luke Cage Romance.

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