Jones, Cage e Murdock: A cozinha do inferno, por dentro e por fora. - Avengers: Random & Fandom

Dedico esse texto à minha própria cozinha do inferno, de 400 anos, Belém do Pará.

[SPOILERS das séries Marvel-Netflix e dos quadrinhos da Marvel dos Defensores]

A coluna de hoje é sobre o trio (talvez, futuramente, quarteto) que protege Hell's Kitchen e sobre a relação deles com o bairro, e porque eles não funcionariam em nenhuma outra parte de Manhattan.


Jessica Jones, Luke Cage e Matt Mudorck formam o trio chamado de Defensores. São protetores de Hell's Kitchen e, ao contrário dos Vingadores, não estão claramente associados ao heroísmo. Uma ex-vítima de abuso, um ex-presidiário e um cego não são exatamente a definição de herói que nós temos tradicionalmente. Mas se cada cidade tem os heróis que merecem, a violência e as disparidade sociais de Hell's Kitchen moldaram intensamente a trajetória dos três. 

A relação intensa entre a cidade e a personalidade deles, o que explica o porque eles não funcionariam em nenhuma outra parte de Manhattan, é visível em duas cenas das séries desses heróis.


A cena onde Jessica Jone se 'despede' de Hell's Kitchen/Nova York mostra a relação mais importante que ela teve na vida; sua relação com a cidade que vive e que tenta proteger, mesmo depois de sofrer abusos e perder perspectiva de ser super heroína. A cidade/bairro que ela decidiu proteger é mais importante que Luke Cage, e é mais forte do que o trauma que Jessica viveu nas mãos de Killgrave.

O grande conflito de 'Demolidor' é a profunda diferença nos projetos de cidade de Murdock e Wilson, o primeiro acredita num projeto urbano baseado em seus preceitos cristãos, e tenta trazer a justiça e igualdade para todos, enquanto que Wilson acredita numa purificação que inclui varrer do mapa todos os indivíduos que Wilson julga inconvenientes para Hell's Kitchen, para que o bairro renasça. Embora esse seja o plano de fundo de uma série da Netflix, é basicamente o resumo da briga dos progressistas e da extrema direita na Europa e pode ser aplicado principalmente quanto a crise migratória atual.



Quanto a Cage, ele é um ex-prisioneiro do Harlem que é vítima de experimentação científica e se transmuta em um homem super poderoso. Os poderes dele são exatamente o produto da sua exploração física, são uma dádiva vinda da exploração. Tendo tudo para ser um pária social, Cage, ao sair da cadeia, torna-se um herói. Ele encontra em Hell's Kitchen a oportunidade de recomeçar. Talvez o senso de proteção ao bairro, em Cage, venha exatamente do senso de casa adotiva.

O que há de comum nas vidas dos três é: A cidade os forjou e eles a protegem. Hell's Kitchen não é só um espaço geográfico, é a extensão física da subjetividade de cada um dos três. As disputas sociais e os desafios urbanos refletem os dilemas de uma civilização, tanto na ficcional Hell's Kitchen quanto em qualquer espaço urbano real em qualquer momento da história da humanidade, e se tem algo de poético na história dos três, é ver a preocupação com a cidade e as pessoas que habitam nela. Se cada um de nós adotasse essa preocupação na hora de votar, já seríamos tão heroicos quanto eles.

É complexa a relação dos três com Hell's Kitchen e é certo que no contexto social ocidental, um negro, uma mulher abusada e um cego estão mais para vítimas; porém, é certo que não imagino nenhum Capitão América protegendo Hell's Kitchen. Se cada lugar tem os super heróis que merecem, os de Hell's Kitchen foram forjados em seu forno infernal para provarem que não se nasce herói.

Torna-se.

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