#Análise
Bulletproof Love
Luke Cage
marvel
Mike Colter
Misty Knight
Netflix
série
Simone Missick
Algumas considerações sobre a série Luke Cage
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Luke Cage e um dos seus livros
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Pra escrever sobre Luke Cage você não sabe se fala de
política, se fala das novas conexões com o Marvel Cinematic Universe (MCU), se
você não fala nada e fica só curtindo. Estava nessa dúvida cruel após terminar
a série, joguei pro pessoal do Twitter numa enquete e me mandaram falar.
Difícil, muito difícil. Vou me esforçar pra não fazer textão!
Luke Cage é a série da Marvel com mais referências ao
restante do universo até hoje. E à cultura pop em geral. É pra gastar todos os
memes do Capitão América que existem na internet. Tem Luke Cage com o traje
completo dos quadrinhos dos anos 70 – ridículo no vídeo, como ele mesmo
constatou -, e produtos das Indústrias Hammer funcionando! Surpreso também? Eu
fiquei chocada. Funcionando e com tecnologia alienígena capaz de ferir o herói
(bem conveniente, inclusive).
Em uma cena na barbearia, Pop (Frankie Faison) sugere ao
Luke (Mike Colter) que talvez ele pudesse se juntar ao “pessoal do centro”. É
assim que eles tratam os Vingadores nas séries da Netflix. Como em The Get
Down, Manhattan, o centro de Nova York, é um mundo paralelo e idealizado, do
qual temos rápidos vislumbres. Há uma aura de coisa fora da realidade. O “centro”
pode ser visto com desprezo ou admiração, dependendo de quem fala. A impressão
que tenho quando assisto Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage é de que os
Vingadores não estão fazendo nada relevante. A coisa séria está rolando ali em
volta. Bem, mas bem mais embaixo da Torre Stark, seja o herói registrado ou não.
“Como é que isso não chega aos Vingadores?” Por causa do cachê. Porque eles
vivem numa redoma. Vivem na Capital de Panem.
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Mahershala Ali como o vilão Cottonmouth |
Demolidor tem ninjas, tem “Céu Negro”, Madame Gao. Jessica
Jones tinha Killgrave. Luke Cage tem... ele mesmo. O único cara com poderes ali
naquele microuniverso. É engraçado que às vezes até me esquecia disso, de tão
realista. Tem hora que é como assistir ao jornal ou a um desses programas
policiais. Misty Night (Simone Missick) tinha uma amiga que foi estuprada e
morta. Pesado.
Luke Cage também age motivado por um assassinato. Isso não
é inédito. Ele começa a querer limpar sua comunidade, fazer a coisa certa,
levar justiça. Também nada diferente de um filme do The Rock ou do Steven Seagal. A força está no contexto.
Tanto Mike Colter quanto o showrunner, Cheo Hodari Coker,
disseram que era o momento para mostrar um cara negro à prova de alas. Usando
capuz. E sendo o herói.
Os Estados Unidos estão passando por um momento em que se
discute racismo e violência policial. O movimento Black Lives Matter surgiu
como uma reação aos casos de negros desarmados mortos por policiais durante
abordagens.
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Bulletproof Love |
Aí vem um episódio no qual o rapper Method Man
(participação especial) dedica ao Luke a música Bulletproof Love (Amor à Prova
de Balas). Praticamente começa a rolar um clipe dentro da cena com moradores do
Harlem usando moletons cheios de buracos para homenagear o herói local, um
grupo deles encarando uma viatura. Fiquei boquiaberta, sem acreditar no que
estava vendo. Não esperava que Marvel/Netflix dariam essa liberdade para deixar
a mensagem tão explícita.
Se Jessica Jones é um conto sobre relacionamentos
abusivos, Luke Cage é um manifesto do Black Lives Matter. Se fosse uma música
do Lemonade, da Beyoncé, seria Formation.
A série exalta a cultura negra norte-americana. Nada
aparece ali por acaso. Os artistas que se apresentam no Harlem’s Paradise, a
trilha de background que lembra os filmes da Blaxploitation, os livros do Luke, os nomes das ruas, até o cabelo da Misty, em tempos de transição capilar e big chop.
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Esperando o tutorial pra fazer esse cabelo direto dos quadrinhos |
Luke Cage é o material mais político que a Marvel lançou
na TV e cinema até hoje. Não quero entrar no mérito de analisar se empresas aproveitaram ou não, mas o fato é que elas deram visibilidade a este movimento
por meio da plataforma.
Meu desejo é de que a Marvel, seja por meio da Netflix ou
do cinema, continue neste caminho de entreter e fazer pensar. Pensei muito em
Luke Cage, tanto que foi difícil organizar as ideias. A maior parte deste texto
veio de um caderno. É muita coisa. Cada pessoa que assiste tem uma visão
diferente, percebe um aspecto novo e a série só cresce. A história só fica
maior.
Assim como este post! =P
Vamos continuar essa discussão? Comente o que você achou
de Luke Cage.
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