Desculpe o transtorno, preciso falar sobre Luke Cage [SPOILERS] - Avengers: Random & Fandom.

Nota da autora: Como quem é vivo sempre aparece, aqui estou eu! Aposto que vocês pensavam que a coluna tinha acabado. Eu também pensei. Mas foi por 5 segundos, na correria entre estudar pro concurso público da UFSC, defender a dissertação com quase 2 meses de atraso, organizar um simpósio acadêmico sobre Gótico e ser aprovada como nova servidora pública no mesmo concurso. Creiam que se eu deixei a coluna de lado realmente foi porque tava bem impossível sequer pensar em alguma outra coisa que não fosse acadêmica ou legislativa nesse período que fiquei ausente. Mas "Luke Cage" me trouxe de volta, me jogou na cara o quanto eu amo o MCU e o quanto eu sempre vou ter algo a falar sobre ele. Espero que vocês queiram me ler.

Nós precisamos falar sobre a importância (política) de "Luke Cage"

Eu tenho tanto a escrever sobre essa série que eu ficaria dias aqui escrevendo esse texto, então vou focar no que "Luke Cage" significa no contexto de hoje nos EUA. E sob a série enquanto uma narrativa, acima de tudo, sobre o que é ser negro nos EUA. 

Primeiramente vamos recordar que a candidata a presidência Hilary Clinton disse, ano passado, que "homens negros de capuz" são assustadores. O racismo subtextual/paradoxalmente explícito de Clinton reflete o que a classe média branca norte-americana pensa. Num país onde as leis Jim Crow vigoraram até 1965, a necessidade de se reafirmar a negritude  enquanto uma base sólida da formação identitária nacional e dos EUA como um país, faz de "Luke Cage" uma das mais acertadas produções da Netflix.

Acima de tudo, "Luke Cage" toca na ferida dos EUA da histórica repressão/medo implícito dos movimentos que representem a força política do povo negro. Apesar de a alusão e associação óbvia ser com o "Black Lives Matter" e sua luta contra a violência policial que aflige a população negra dos EUA, não podemos esquecer que os pantera negras também foram perseguidos pelo governo norte-americano e a maioria de seus membros figurou por muitos anos nas listas de mais procurados do FBI. Não tem como dissociar a busca da polícia pelo Luke e a força política que ele ganha, o apoio da população do Harlem, a violência dos policiais em sua busca cega pelo Luke, marcadas na frase de Diamondback: "Será que o povo está pronto para pretos à prova de bala que comem policiais no café da manhã?", o público norte-americano abraçou a série e muitos disseram que Luke Cage não era um super-herói, mas um resultado natural da evolução da humanidade. Aliás, o quão poderosas e magníficas são as cenas de Cage sendo crivado de balas e ficando parado, plácido, o quão profundamente elas tocam e criticam TODA a história dos EUA em relação ao povo negro? O poder e o brilho disso são algo ao qual eu devo aplaudir tanto a Marvel quanto a Netflix.

O fato de Cage negar continuamente o fato de ser um "herói", de ele ser um ex-presidiário e de estar sempre ao lado da população do Harlem, só aumentam a significação política da série. Aliás, o lugar da série, o Harlem, ao invés de Hell's Kitchen (lar de Matt Murdock e Jessica Jones) mostra o quão clara é a mensagem da Netflix/Marvel, o Harlem foi conhecido pela sua Renascença Negra na década de 60, palco da luta pelos direitos civis, lar de Malcolm X. Vincular Cage ao Harlem é um ato político por si só.

Tudo na série prega a continua reafirmação do orgulho da negritude, da identidade negra nos EUA e da autenticidade da herança do povo negro na construção dos EUA e do Harlem. A foto de Notorius Big na parede, as atrações musicais do Harlem's paradise, a trilha sonora da série (que traz de Nina Simone, John Lee Hooker a astros atuais como Jidenna), a literatura consumida por Cage, os mínimos detalhes da série gritam o orgulho da negritude ao infinito e além. 

 Mas esses são tópicos para próximas colunas =)