MCU Revisitado – Capitão América: O Soldado Invernal




Capitão América: O Soldado Invernal foi o primeiro filme que assisti após fechar o Vingadores da Depressão, blog E redes sociais, em 2013. Pouco mais de dois anos foram suficientes para me fazer esquecer como era assistir a um filme sem sentir-me obrigada a escrever sobre ele, analisá-lo, lidar com a repercussão, responder perguntas, etc. Era uma liberdade que eu tinha esquecido, ou da qual não tinha consciência até começar a “trabalhar” com o tema. A sensação ficaria ainda mais evidente meses depois, com Guardiões da Galáxia.

Soldado Invernal é considerado por muitos a obra-prima da Marvel Studios, o filme mais maduro (acredito que hoje Pantera Negra divida esta posição com ele). É notável a diferença da sequência de Capitão América em relação aos demais filmes lançados pelo estúdio entre 2008 e 2014. O clima é diferente, o humor, até mesmo as cores são mais próximas da realidade.

A contratação dos irmãos Joe e Anthony Russo (e também de James Gunn) para a direção do Capitão América 2 foi vista com receio. Anunciados ainda em 2012, eram conhecidos por séries de comédia, em especial Community (2009-2015). Quer dizer, após as sequências de Homem de Ferro e Thor, a conclusão era que a Marvel Studios tinha jogado tudo para o alto de vez, chamando dois produtores de comédia (os Russo) e o roteirista dos live-actions de Scooby Doo (Gunn) pra trabalhar nos filmes. Já era... Principalmente ao considerar que eles estavam adaptando um dos arcos mais queridos dos fãs das HQs, que é o do Soldado Invernal.

No entanto, o que, no mínimo, parecia um “movimento estranho” acabou se revelando uma escolha acertada, somada ao roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, que já haviam feito um ótimo trabalho escrevendo o primeiro filme.

Capitão América: O Soldado Invernal pode ser chamado de thriller, suspense, filme de ação político, que seja. O longa mostra Steve Rogers entendendo que o mundo não é o preto e branco, dividido entre mocinhos e os bandidos, que ele conhecia nos anos 40.


Nesta história, que se passa em Washington, centro do poder dos Estados Unidos, ele já está trabalhando efetivamente para a SHIELD integrando a equipe chamada Strike, juntamente com Natasha Romanoff, a Viúva Negra, e Brock Rumlow (Frank Grillo). Na missão que abre o filme, eles precisam retomar um navio da agência que havia sido sequestrado por piratas modernos liderados por Georges Batroc (o lutador Georges St. Pierre). Somente nesta primeira sequência você percebe 1) Steve extremamente desconfiado e questionador 2) As lutas nunca haviam sido tão bem coreografadas 3) Que negócio é esse de uma missão dentro de outra missão?

Mais adiante, descobrimos que a SHIELD foi comprometida, mas ainda não sabemos de que forma e, ao longo do caminho, somos levados a agir como Steve e desconfiar de todo mundo, até da Viúva Negra. Só que, em uma das maiores plot-twists do MCU, é revelado que a SHIELD estava dominada pela Hidra, aquela dissidência nazista do Caveira Vermelha lá no primeiro filme, desde sua origem.

A mente do cientista Arnim Zola (Toby Jones), armazenada em um computador gigantesco, nos conduz através da história do mundo mostrando que a organização esteve envolvida em vários grandes acontecimentos, entre eles o “acidente” de trânsito que vitimou Howard e Maria Stark na década de 1990. O próximo passo deles e usar o Projeto Insight para controlar a humanidade: aeroporta-aviões que poderiam neutralizar  - a tiros - ameaças antes que elas fossem colocadas em prática (como em Minority Report). Os alvos da SHIELD eram terroristas, assassinos em massa, por exemplo. Já os da Hidra incluíam qualquer um que pudesse se opor aos seus objetivos, como Tony Stark. O Capitão é contra ambas as opções.

Rumlow é da Hidra. O senador Stern (Garry Shandling), de Homem de Ferro 2, é da Hidra. O agente Jasper Sitwell (Maximiliano Hernández), que a gente conhecia desde o primeiro Thor e era um dos protagonistas do curta-metragem Item 47, é da Hidra. O chefe da SHIELD, Alexander Pierce (Robert Redford, a cara do Silvio Santos), é da Hidra! A sequência que mostra isso é sensacional.


O século 21 é um livro digital. Zola ensinou a Hidra a lê-lo. O saldo das suas contas bancárias, histórico médico, padrões de votação, e-mails, chamadas telefônicas, as notas dos seus exames. O algoritmo de Zola avalia o passado das pessoas para prever o futuro delas. (...) Os aeroporta-aviões do Insight riscam os nomes da lista.


Esta fala do agente Sitwell se encaixou bem em uma época em que se discutia muito o quanto a internet revelava sobre nossas vidas, o quanto nos expúnhamos e revelávamos de bom grado (para “personalizar a experiência no app”) e as pessoas começavam a cobrir as câmeras dos notebooks com fita isolante. Fora a insegurança geral que reina em vários aspectos das nossas vidas.



A melancolia do Capitão América






Steve ainda está tentando se adaptar à nossa época. Ele mantém um bloquinho onde escreve sugestões de coisas que precisa conhecer (lembra que cada país teve a sua versão?), mora em um apartamento simples, mas lotado de livros e discos e ainda enfrenta a solidão. Neste filme ele faz amizade com Sam Wilson (Anthony Mackie), afastado da Força Aérea dos EUA que conduz um grupo de apoio a militares que precisam se recuperar dos traumas de guerra (como aquele que aparece na série do Justiceiro). As experiências em comum são o primeiro laço que surge entre eles. Mais adiante, ele revela a real natureza das suas missões e o Falcão entra na história.  A parceria na equipe Strike também acaba aproximando Steve e Natasha, entre as provocações dela, tentativas de bancar o cupido e as discussões sobre confiança.

Por outro lado, Steve ainda tenta se conectar com o que restou do passado. Em uma das cenas mais dolorosas do filme (ou de todo o MCU), ele conversa com Peggy Carter no asilo. Steve, sem ter envelhecido um dia, diante dela, idosa e debilitada, cercada de fotos da família que construiu sem ele, e acometida pelo cruel Alzheimer. Quando Peggy tem um lapso que a fazer olhar pra ele como se tivesse acabado de aparecer, Steve segura o choro e nós também.

Há também a passagem em que, disfarçado, ele visita uma exposição em homenagem ao Capitão América no museu Smithsonian. Imagine a estranheza de ver sua história ser contada por outros, de encarar as peças envelhecidas do seu passado, que parece ter sido ontem. Há, inclusive, uma parte dedicada a Bucky Barnes, “o único membro do Comando Selvagem a dar sua vida no campo de batalha”. Bucky é um dos agravantes da culpa de sobrevivente que Steve carrega. Quando descobre que seu melhor amigo, quase irmão mais velho, é o Soldado Invernal, o choque é grande. Acreditando ser o culpado por Bucky ter sido encontrado à beira da morte pela Hidra e transformado em uma máquina de execução, ele vai fazer de tudo para salvá-lo ou tentar recobrar sua consciência, nem que seja entregando a própria vida.

Diante de tudo isso e da perda da inocência ao descobrir que o que ele considerava ser o “lado certo” pelo qual lutava estava contaminado desde a raiz faz o Capitão América terminar esta história mais melancólico e mais irônico.


A melhor versão da Viúva Negra



Boa parte do público considera que a representação de Natasha Romanoff em Capitão América: O Soldado Invernal é a melhor entre os cinco filmes nos quais ela apareceu até hoje. 

Há tempo para mostrar mais da personalidade dela (“só pareço saber tudo”), suas habilidades e um pouco do seu passado. Ao contrário dos quadrinhos, ela sabe da existência do Soldado Invernal porque foi baleada por ele durante uma missão. O grande abalo que sofre diante da “morte” de Nick Fury (Samuel L. Jackson brilha neste filme!) pode ser interpretada como uma ligação quase paterna entre os dois, como Daisy e Coulson em Agents of SHIELD.

Em Os Vingadores, Natasha fala que havia muito vermelho em sua conta, crimes e mortes de inocentes. Em Soldado Invernal, ela não hesita em liberar essas informações para o mundo para expor no que a SHIELD havia se transformado. Pena que essas revelações tiveram pouca ou nenhuma repercussão nos filmes seguintes...

Em sua estreia no MCU, os irmãos Russo mostraram a que vieram. Com um roteiro bem trabalhado e cheio de diálogos afiados (vide Nick Fury e Steve no elevador) em mãos, eles souberam imprimir seu estilo sobre a tal Fórmula Marvel da qual tanto se fala, algo que se repetiria dali a dois anos em Guerra Civil. Pé no chão, cenários realistas e planos abertos são características deles que só somaram ao texto de qualidade que já existia na filmografia do Capitão América. A chegada deles abriria uma nova fase no MCU, mais autoral, em que os cineastas apareceriam tanto quanto as estrelas dos filmes.


FICHA TÉCNICA
Capitão América: O Soldado Invernal (Captain America: The Winter Soldier)
Direção: Joe e Anthony Russo
Roteiro: Christopher Markus  e Stephen McFeely. Baseado na obra de Joe Simon, Jack Kirby, Ed Brubaker, Steve Epting e Michael Lark
Elenco: Chris Evans, Scarlett Johansson, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Samuel L. Jackson, Cobie Smulders, Robert Redford, Frank Grillo, Emily VanCamp, Hayley Atwell, Toby Jones, Maximiliano Hernández, Garry Shandling …
Duração: 2h16
Estreia no Brasil: 10 de abril de 2014
Estreia nos EUA: 4 de abril de 2014
Orçamento: US$ 170 milhões
Bilheteria: US$ 714 milhões
Prêmios e indicações: clique aqui
Fonte: IMDB, Box Office Mojo

Um comentário:

  1. Que pena que ninguém notou a brilhante atuação do Sebastian Stan nesse filme, so pq ele não tinha muito diálogo. 😔

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