Vingadores Deprê Indica Livros - parte 2

Esta é a segunda e última parte das nossas indicações de livros para vocês. Esperamos que tenham gostado das dicas da Gabriela e da Lu, publicadas ontem. Agora é a vez de Cris e Yasmim darem o recado. E também rolou uma indicação conjunta do blog. 


Cris do Vingadores Deprê



As Crônicas Vampirescas (Anne Rice)

“– É claro – respondeu o vampiro. – Então, gostaria de lhe contar a história de minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo.”

A primeira página de Entrevista com o Vampiro lembra a sensação de espiar pelo buraco de uma fechadura. Você chega no meio da conversa entre o jovem repórter Daniel Molloy e Louis Point Du Lac, o vampiro de mais de 200 anos que um dia resolver desabafar e contar a história de sua existência e as pessoas que se envolveram nela.


Se você gosta de Crepúsculo, True Blood, Buffy, e qualquer outra série escrita depois de 1976 (ano de publicação do primeiro dos 12 volumes das Crônicas), saiba que todos beberam da fonte de Anne Rice, quer assumam, quer não. Anne Rice é a mãe disso tudo (e a que melhor retratou isso, claro, por ser a precursora). Ela foi a primeira autora a contar uma história de vampiros do ponto de vista do vampiro! Percebam: anteriormente, acompanhávamos humanos que eram assombrados pelas criaturas e precisavam destruí-las a qualquer custo. No entanto, ninguém até então tinha perguntado para o vampiro o que ele achava dessa situação toda. Mesmo porque, a maior parte delas havia sido retratada como uma espécie quase irracional. Os vampiros da Anne Rice são realistas, têm necessidade de sangue e, mais ainda, da morte em si. Da morte humana. Como lidam com isso? Cada um deles tem uma resposta diferente...


Bom, já estou me alongando. Imagino que você já deve ter assistido o Entrevista com o Vampiro de 1994, com Brad Pitt (como Louis), Tom Cruise (o inesquecível Lestat), Kirsten Dunst e Antônio Banderas. Aquilo era só o começo. Após o primeiro livro, a porta da tal fechadura se abre, e você entra num universo riquíssimo, cheio de outros imortais, riqueza, terror, amor, luxúria, violência, humor, tudo! A história salta do Egito antigo (muito antigo) para a São Francisco dos anos 80, dá a volta ao mundo, praticamente, e te leva junto. As Crônicas são para mim o que O Senhor dos Anéis é para a Gabi. Mudou minha vida. Formou meu caráter. 

Você não vai se arrepender! (obs: pra quem curte, a Anne é a mãe dos pairings yaoi também, de verdade =P)

E a Anne tá online no Facebook, viu? http://www.facebook.com/annericefanpage

Trilogia Millenium (Stieg Larsson)

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, A Menina Que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. Quando já trabalhava no quarto livro, em 2004, o jornalista sueco Stieg Larsson sofreu um ataque cardíaco enquanto subia os sete lances de escadas do prédio onde trabalhava e morreu. Isso aconteceu semanas antes de o primeiro livro da Trilogia Millenium ser publicado. 

Stieg não viu sua obra se tornar um best seller mundial, que deu origem a quatro filmes (três na Suécia e o mais recente nos EUA, com direção de David Fincher). Teorias da conspiração surgiram na época dizendo que talvez ele tivesse sido assassinado por saber alguns segredos do governo, coisa desse tipo. Isso porque, nos livros, Stieg cria uma trama tão realista envolvendo esses elementos que talvez tivesse algum fundo de verdade. Vai saber?

Millenium começa com a condenação do jornalista econômico Mikael Blomkvist, que publicou uma reportagem com informações falsas (ele não sabia) sobre um prestigiado industrial sueco. Mas, antes de ir preso, ele é contratado pelo milionário Henrik Vanger, disposto a fazer uma última tentativa de encontrar a sobrinha, desaparecida na década de 60. O mistério vai ficando cada vez mais truncado. É aí que Mikael resolve pedir ajuda a Lisbeth Salander, uma hacker punk que... é uma das maiores personagens femininas da literatura do nosso século, ouso dizer. Bom, a história não é só isso, claro. Os três livros são ENORMES, mas aposto que você vai terminar a trilogia em poucas semanas. Aconteceu comigo.

As Memórias de Cleópatra (Margareth George)

Também é uma trilogia. Cleópatra é uma das rainhas que mais me fascina (se não a que mais) e sempre quis encontrar alguma coisa além do que os livros de história do colégio e os filmes nos mostram. Mesmo que fosse ficção. Fui atrás da peça de Shakespeare, mas mesmo assim achei um pouco vazio. Até que a Yasmim me deu os livros de presente, em 2009 (valeu de novo, Yas!).


Margareth George sempre estudou a cultura egípcia e, graças a isso, conseguiu fazer uma reconstituição de época perfeita. As coisas se tornam reais na sua frente. E todos aqueles bustos romanos e afrescos em paredes ganham vida, ganham voz, ganham uma identidade. É maravilhoso! As memórias de Cleópatra são narradas em primeira pessoa por ela mesma, escrevendo em seu mausoléu durante a invasão do exército de Caio, em 69 A.C (se você conhece a história, mesmo em linhas gerais, sabe o que isso significa). Aos poucos, sua admiração pela rainha vai se transformando em empatia enquanto você acompanha suas histórias desde a infância até a idade adulta, seus erros, acertos, vitórias, derrotas, e seus amores (que nem foram tantos como a história prega, mas foram intensos). Vá atrás desta trilogia!!!

Yasmim Deschain 



A Torre Negra – Stephen King

Escrever sobre a Torre Negra sempre é e sempre será um grande desafio pra mim, pois é difícil exprimir a importância dessa saga na minha vida. Para quem não sabe, até meu “sobrenome virtual” vem daí, o Deschain vem do Roland Deschain, protagonista da trama. A Torre Negra entrou na minha vida despretensiosamente e tomou proporções magnânimas. Mas deixem-me falar da saga logo antes de começar a chorar na frente do notebook.

A trama gira ao redor de Roland Deschain, o último pistoleiro da Terra Média que busca alcançar A Torre Negra para salvar seu mundo da destruição total. A saga é abertamente inspirada em Senhor dos Anéis, o próprio King confessa isso nas notas ao leitor que precedem cada livro, mas o que é realmente genial são os elementos que dão uma originalidade ímpar obra. King misturou elementos dos faroestes ítalo-americanos (Roland é inspirado em Clint Eastwood), colocou problemas da modernidade, metalinguagem com outras das suas obras e personagens extremamente problemáticos junto com elementos típicos de obras místicas e fantasiosas.


Vou falar de Roland e dos seus três principais companheiros. Temos Eddie Dean, um vagabundo viciado em heroína que se mete com a máfia de Los Angeles; temos Oddetta Holmes, uma negra milionária, paraplégica e esquizofrênica com uma personalidade oculta chamada Detta Walker, que se porta como uma prostituta favelada cujo hobbie maior é roubar lojas grandes. Além deles temos também Jake, uma criança que é como um filho para Roland, mas que partilha com o pistoleiro uma tragédia enorme e também é perseguido pelos próprios demônios.

E Roland. Oh, Roland. Roland é o herói mais perfeitamente obcecado e determinado que você pode conhecer. Roland mata, morre e arrisca tudo pela Torre Negra. Tudo e todos. Na longa estrada em direção a Torre, ninguém está a salvo. Ninguém. Roland não hesita em sacrificar, por que a Torre está acima de tudo. Ao mesmo tempo, Roland é honrado, másculo, forte e apaixonante. Cheio de pecados e máculas devido a suas escolhas no passado, com certeza. Mas todas em prol de sua causa maior pela Torre. Acho que nunca vou conseguir definir Roland muito bem, por que ele me toca demais. Roland tem algo de extremamente duro e profundo e fantástico que simplesmente me prende a ele de uma forma como poucos personagens me prenderam. Roland é um homem fantasticamente terrível de todos os modos imagináveis.

As aventuras que ele e seus amigos vivem transcendem o plano da Terra Média e chegam ao nosso mundo; o tempo é invertido, dobrado e mudado a todo o momento. A escrita de King é profunda e vertiginosa. E as cenas de ação são perfeitas. As descrições do mestre King deixam muito blockbuster hollywoodiano comendo pó, pois King consegue transformar até pratos em uma potente arma para decepar cabeças de andróides que sequestram crianças.

Enfim, a Torre Negra merecia um post só pra ela. É fantástica. Para os que amam fantasia e ação. E claro, o mestre King.

Helena de Tróia – Margaret George

Helena de Tróia é uma obra magistralmente bíblica. Claro que foi um grande desafio lê-la no começo, não pelo tamanho, mas pelo meu eterno desprezo pela figura central. Numa sociedade machista como a nossa, eu cresci vendo a Helena como uma puta escrota. E o livro é todo em primeira pessoa, com um ponto de vista exclusivamente de Helena.

Começar a ler foi difícil. Era difícil entender, aceitar e gostar de Helena no começo. Era difícil de lidar com Paris, era difícil entender uma mulher que renegara a própria família e causara uma guerra – como pretexto, mas o pretexto perfeito. Mas Helena é cativante. Ela cresce. Passa de moça apaixonada para mãe forte e mulher determinada. Helena também desenvolve um belo relacionamento alternativo com Heitor, seu cunhado, que para mim é um dos pontos mais sensíveis do livro. Uma das passagens mais emocionantes é quando o maior guerreiro de Tróia, antes da luta derradeira com Aquiles, se encontra as escondidas com Helena e pede para que ela cuide de sua cidade e sua família. Fabuloso.


Além dos personagens bem construídos, da trama densa que consegue ser bem surpreendente mesmo com o final já conhecido pelo público em geral, os deuses são de fato presente nesse livro. São mais que meras crenças. Atenas está lá, tal qual Afrodite. Agindo, interferindo, mudando o curso da vida de cada um. É simplesmente fabuloso, por que a personificação se transcende e se torna um dos pilares da história.

Helena de Tróia é mais real que fantasioso, mas é uma trama que, principalmente para o público feminino, vale realmente a pena para refletirmos sobre nossos próprios conceitos e valores.

Maligna (Série: “Maligna”, “O Filho da Bruxa” e “A Lion Among Men”) – Gregory Maguire

Muitos antes da onda das adaptações de histórias infantis em Hollywood, Gregory Maguire concebeu a história do Mágico de Oz contada sob o ponto de vista da Bruxa Má do Oeste, Elphaba.

Elphaba é uma aberração: Verde e pobre, ela vive numa Oz corrompida e tingida por sinistros segredos de estados. Ao entrar na universidade, ela se envolve com a pesquisa sobre Animais – que são os bichos falantes, considerados “inferiores” aos humanos. O Animal que é o maior pesquisador dessa área é misteriosamente assassinado e Elphaba se envolve numa pesquisa genético-biológica que a leva para dentro das raízes do misticismo de Oz.

Elphaba se envolve com o proibido, desafia regras de governo, arranja amores poderosos e aos poucos sua luta pela defesa dos Animais e de uma Oz menos corrupta faz com que ela coloque uma corda ao redor do próprio pescoço. E a Oz de Maguire é a América do avesso, está tudo; o protestantismo, a disparidade Norte-Sul, o preconceito; tudo, tudo. Maguire desfia e critica isso ácida e arduamente.

Glinda vira uma patricinha nojenta, a Bruxa Má do Leste é uma irmã paraplégica e parasita; Dorothy e seus companheiros são um mero recurso nas mãos do estado para iludir a população de Oz; o Mágico é um símbolo da repressão do Estado. Ao mesmo tempo, a Bruxa tão temida da nossa infância é uma mulher militante, ativa na política de seu mundo deturpado e também atraente, provocando amores escandalosos ao longo da história e inclusive engravidado de um deles.

Agora imagine tudo isso com os elementos fantasiosos – fadas, elfos, etc. – a que estamos acostumados. Isso gera uma obra descomunal e genial como poucas são.
A saga de Elphaba segue em O Filho da Bruxa. Acompanhamos Liir, o filho de Elphaba em busca da identidade própria, seguindo sobre os passos da mãe, deslocado no mundo de Oz pós-Dorothy que parece cada vez mergulhado em corrupção, tendo em seu governo um Espantalho que é mero fantoche de poderosas facções que lutam entre si. Maguire volta a acertar a mão explorando temas polêmicos, como o homoerotismo e uma polêmica relação a três na vida de Liir. O final é extremamente irônico e lírico, nos remetendo a Elphaba.

O terceiro livro dessa terra de Oz sombria, já escrito por Maguire é “A Lion Among Men”, sem previsão para tradução ou chegada em terras tupiniquins. Ainda não o li, mas sei que se passa durante uma espécie de guerra civil em Oz e ponto de vista é o do Leão falante amigo de Dorothy que está lutando nessa guerra. Pretendo baixar e ler quando tiver tempo para tal coisa – não tão cedo, eu acho.

Mas eu deixo a série Maligna como uma dica para mostrar que uma adaptação de um clássico infantil pode sim ser algo profundo, bem estruturado, genial e, acima de tudo, crítico. Por que são nas alegorias da infância que residem os maiores paradoxos da vida.


Menção honrosa às Crônicas de Gelo e Fogo (George R. R. Martin)



Porque como a gente ia deixar de falar disso? É uma indicação conjunta, sabe (bom, pelo menos de três de nós)? Nossa geração é privilegiada por estar acompanhando o desenvolvimento de uma saga que vai entrar para a história da literatura fantástica mundial, juntamente com O Senhor dos Anéis. E isso com a vantagem de estarmos integrados às redes sociais e todos os meios de entrar em contato com a obra e o autor, já que Martin está muito vivo, em pleno processo de trabalho e atualizando seu blog.

Vamos ao que interessa. As Crônicas de Gelo e Fogo te apresenta ao continente fictício de Westeros, uma terra medieval com reinos que guardam várias semelhanças com alguns países/povos que conhecemos. Ele é dividido em sete reinos, cada um comandado por uma família (ou Casa) que se submete ao rei, governante de todo Westeros através do Trono de Ferro, em Porto Real. Bom, pelo menos era pra ser assim.



É difícil resumir a história toda em um único post, porque ela é tão grande e tem tantos desdobramentos que... Mas, deixa eu resumir: temos guerras civis, ameaças sobrenaturais que vêm do Norte, de “além da Muralha” que mantém as criaturas e os selvagens afastados da civilização comum, a luta da jovem Daenerys Targaryen, que teve o trono usurpado... É um universo IMENSO! A previsão é de que serão sete livros (Sete Reinos, sete livros...). O quinto acabou de ser lançado no Brasil em português (e recolhido das livrarias porque faltou um capítulo =P). Se você ainda está com o pé atrás quanto à leitura, comece a assistir a série da HBO, que vai para a terceira temporada no ano que vem. Você não vai se arrepender!

Então, esta foi a última parte da nossa lista de livros. Deixe seu comentário! 

2 comentários:

  1. Vocês não gostam de Harry Potter? Ninguém citou, nem nessa coluna nem na anterior. Não gostam????

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  2. Caramba, gostei de mais do As Memórias de Cleópatra, minha mãe vai ter que me dar dinheiro pra ir na livraria u-u , eu sou apaixonada pelo Egito antigo KKK

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