Avengers: Random & Fandom - Ava DuVernay, Pantera Negra e a conscientização dos filmes da Marvel



Nota da autora: A ilha da magia, Floripa, onde resido é muito cheia de surpresas e por isso, semana passada não pude publicar a coluna, mas aqui estou. Minha vida acadêmica na pós da UFSC também me sobrecarrega e peço desculpas pelo atraso. Espero que a coluna de hoje compense isso ;)


Essa semana, apareceu na minha timeline que a diretora de Selma, Ava DuVernay, (filme biografia sobre o Martin Luther King), estaria sendo cotada pra dirigir ou Pantera Negra ou Capitã Marvel. Bom, as meninas aqui da equipe me disseram que não vai rolar, mas minha mente ficou viajando nas possibilidades.

Eu acho que me concentrei tanto nisso porque tenho vivido um momento de recuperação de ancestralidade desde que voltei para o paganismo e comecei a praticar a Wicca. É algo que os antigos pagãos e os neopagãos dão muito valor, os antepassados.

Eu sou filha de uma cabocla (filha de negro com índio) paraense e um japonês, mas durante toda minha vida foi-me imposto o padrão de beleza e a mentalidade eurocêntricas. Por uma decisão pessoal devido a religião, eu decidi resgatar e valorizar a minha ancestralidade.

A minha avó é negra. Negra mesmo. Mas ela não gostava de ser chamada assim. Minha mãe dizia pra gente casar com pessoas brancas pra clarear a família. Eu comecei a alisar meu cabelo desde muito cedo. 

E depois de muita coisa, a gente entende o quão violenta é a repressão a ancestralidade negra. Pela família, pela mídia, pelos órgãos oficiais do governo, por tudo que nos cerca.

Por isso mesmo, a ideia de um super herói moderno, negro e africano indo as telonas por uma cineasta que já tratou da biografia de um dos mais importantes líderes do movimento negro nos EUA, me tocou tanto.


Mesmo por que como herói, o Pantera Negra é fascinante. Vamos ter um pequeno background dele.

Criado em 1966 por Stan Lee e Jack Kirby, ele debuta num volume do Quarteto Fantástico. T'Challa é um príncipe africano, cujo pai é assassinado e o direito da família usurpado por interesses políticos num metal chamado Vibranium. Então, ele viaja aos EUA e depois volta para derrotar os que lhe tiraram do poder. Pantera faz parte de uma formação dos Vingadores e na cinematografia da Marvel, já em Capitão América 3: Guerra Civil.

Apesar da história soar meio clichê, tem elementos fascinantes.

T'Challa é rei de Wakanda, uma nação futurista da África equatorial. Wakanda é uma subversão da visão da África que temos: em geral a de um lugar pobre, atrasado, selvagem e "exótico". Wakanda é rica e desenvolvida, todas as diferenças sociais e doenças foram extirpadas. Wakanda é algo que a gente pode designar como fazendo parte do afrofuturismo. Retratar uma nação assim no cinema muda em muito a visão do grande público em relação a África e aos africanos.



T'Challa como personagem também é fascinante! Ele é descendente de uma dinastia africana de guerreiros e tem habilidades ultra desenvolvidas de luta armada e corporal. Ele é um cientista e usa suas habilidades para proteger Wakanda.

O nome que ele escolhe para seu herói não parece casual porque temos o partido norte-americano dos Pantera Negra, que lutou durante anos nos EUA por igualdade racial na clandestinidade, sendo perseguido e criminalizado. Pantera Negra, o partido, foi fundado em 1966, mesmo ano que o T'Challa debutou no universo da Marvel.



Eu fico imaginando o quão fascinante isso seria pelas mãos da Ava, ver um super herói negro como protagonista em uma nação anti-colonial e independente é  subverter anos e anos de representação "coitadissizada" do negro e também mostrar o poder da identidade afro. Eu acho que a Ava daria um tom fantástico ao filme, ainda mais se basearmos em Selma.

E isso toca em outro ponto que eu já mencionei aqui na coluna: A Marvel está se tornando mais publicamente adulta. Está na hora de tocar na ferida de assuntos políticos e socialmente polêmicos, de uma forma ou de outra. Fazer isso também é acordar o público, conscientizá-lo de alguma forma. Educá-lo, como diz a Gabi, nossa outra moderadora.

Realmente lamento que a Ava não tenha sido confirmada como diretora, mas só a ideia da especulação já me deixa feliz. 

Acho que estamos realmente entrando numa nova era de filmes de super herói.

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