Avengers: Random & Fandom - Marvel desconstruindo gênero (?!)



Essa semana fui positivamente surpreendida pelo anúncio da negociação da deusa diva rainha bicha destruidora mesmo viu viado? Tilda Swinton para adentrar no Universo Marvel. Como eu amo o trabalho da Tilda há anos (desde o lançamento de Constantine!), fiquei ultra feliz de ter essa atriz excepcional adentrando o universo Marvel.

Depois que a felicidade passou, fui pesquisar e ler sobre o personagem que ela interpretaria e fiquei positivamente feliz ao ver que ela possivelmente interpretará um personagem chamado Ancião, mentor do Doutor Estranho e Supremo Mago do Universo.

O que eu achei realmente interessante foi que nas HQs, originalmente, o Ancião é homem. Embora a Tilda seja um ícone da androgenia, ela ainda é mulher. Não sei como a adaptação vai lidar com isso, se a Tilda será homem, mulher ou os dois ou nenhum dos, ou se ainda o gênero da personagem será mantido em mistério.

Eu particularmente adoro pensar nessa última ideia. 

Como pesquisadora dos estudos culturais e que já trabalhou com estudos de gênero, posso afirmar que no século XX após o trabalho de muitos pesquisadores das Ciências Humanas e, especialmente, de uma chamada Judith Butler, muitos apostam na queda do gênero. No dia que isso vai se tornar irrelevante.

Calma, os estudos do gênero não negam diferenças biológicas, mas as distinguem profundamente do gênero social, que é visto como algo performático. Eu já comentei sobre isso na coluna da Viúva, então não me prolongarei.

O que isso tem a ver com a Tilda e o Ancião? Tudo!

Se o gênero é algo performático, você pode subverter a performance e desconstruir o gênero (que é o que faz muitos apostarem no fim das distinções sociais advindas deste no futuro). Ter um caso de gender bender (mudança de gênero) na cinematografia da Marvel só abre mais essa ideia.

Acho muito que seria muito poderosa a metáfora do Mago Supremo do Universo não tendo gênero revelado, não sendo categorizado, rotulado por uma origem biológica, sexualmente. Passa a forte mensagem de que a sabedoria e o poder advinda desta são maiores que quaisquer convenções sociais. Fenomenal a mensagem.

Não é, porém, a primeira vez que a Marvel faz isso.

Embora sejamos um blog de cinema, acho inevitável mencionar o caso recente da Lady Thor. Tomem cuidado que aí vem spoilers, dos quadrinhos! 


Lady Thor é o alter-ego de Jane Foster, após ela conseguir levantar o Mjolnir, o martelo sagrado dos Deuses nórdicos. 

O que é mais interessante, de acordo com os idealizadores dessa mudança, é que ela tem a ver com questionar quem é digno de ser um Deus no universo da Marvel. 

Thor é filho de Odin e carrega em si todo o poder divino natural para levantar o martelo. Mas dar a Jane, o interesse amoroso mortal de Thor, a capacidade de se tornar a Deusa do trovão muda toda a perspectiva.

Estamos numa polaridade; um messias masculino divino contra uma mulher mortal doente (nas HQs, Jane luta contra o câncer de mama), mas ambos com a mesma capacidade e merecimento de levantar o Mjolnir e se tornarem Deuses do trovão. Isso é de um empoderamento incrível e também passa a mensagem da Tilda como Ancião: não é o gênero que vai te limitar em relação ao seu poder e sua capacidade. 

Porém, claro, a desconstrução de gênero não implica em destituir o feminismo ou as políticas públicas e produções midiáticas voltados a mulher e a luta pela igualdade. Eu vejo a desconstrução como um instrumento pra intensificar isso e igualar os sexos, como se fosse tijolos para pavimentar uma longa estrada em rumo a igualdade.

Eu tenho um sobrinho de 5 anos, Neto, que ama a Marvel. Ele é louco pelos vingadores. São referência pra tudo, na vida dele. Eu ia querer que as pessoas encarassem com naturalidade Tony Stark chorando ou Capitão América fraquejando, podendo se desarmar do papel de macho alfa que lhes foi embutido. Seria muito saudável, pro Neto e pra tantos outros guris, ver que não  tem problema nenhum em ser sensível. Mas essa é uma próxima etapa, e não sei quando a Marvel chega lá.

Mas ter a Tilda Swinton como Ancião e Jane Foster como Thor já é um grande começo.

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