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Vingadores Era de Ultron
visão
Viúva Negra
MCU Revisitado – Vingadores: Era de Ultron

Vingadores: Era de Ultron era um filme muito esperado. Seria a segunda reunião do grupo de super-heróis que virou mania no mundo em 2012, uma das maiores bilheterias da história. Vender até que vendeu. Foi US$ 1,4 bilhão, alguns dólares atrás do primeiro, que faturou US$ 1,5 bi. Só que o resultado ficou aquém do esperado e até hoje o filme não é um dos mais queridos dos fãs do Marvel Cinematic Universe (MCU).
O diretor e a produção buscaram trazer de volta quase tudo que havia
dado certo no primeiro: plano-sequência dos personagens
lutando com o plus de um salto em câmera lenta, vilão relacionado a um dos
protagonistas, o perigo descendo do céu e a máquina que gera a grande ameaça no
final, com os heróis correndo contra o tempo para salvar civis. É o mesmo
diretor, igualmente responsável pelo roteiro como da outra vez. Eles repetiram
tudinho, mas por que o público não respondeu da mesma maneira?
Na estreia, cheguei a aprovar algumas coisas que ocorrem no filme. Semanas depois, refletindo, percebi que não era tão bom quanto parecia. Em 2018, foram 2 horas e 21 minutos difíceis de atravessar.
Matérias dão conta de que a produção foi bem conturbada, com
diretor e produção batendo de frente. As histórias começaram a surgir na época
e renderam pautas até no ano seguinte. Ainda durante o lançamento, o cineasta disse que o
aumento do número de heróis foi um pesadelo.
Em 2016, comentou que se cansou por conta de conflitos com a produção
e enfatizou ter feito um desserviço ao estúdio, ao filme e a si mesmo.
Segundo consta, o estúdio exigia mais ação e o diretor/roteirista queria focar mais no fator humano. O confronto entre as duas forças criativas
gerou uma bagunça.
Cito alguns pontos polêmicos. Ultron ser criado pelo Tony
Stark e não por Hank Pym, que só apareceria no MCU meses mais tarde, incomodou
muitos fãs. Apontava-se um exagero na importância do personagem nos rumos da saga cinematográfica. Pra mim não era problema, não tinha esse apego. Não sou leitora assídua de
quadrinhos e agora não consigo me lembrar se li a história original de Ultron
(1968) antes ou depois do filme. Na Era de Ultron dos cinemas, Tony convence
Bruce Banner a criar com ele uma inteligência artificial capaz de proteger
nosso planeta de grandes ameaças, como o ataque dos chitauri. A ideia já
existia, só que o pesadelo induzido por Wanda Maximoff em que o Homem de Ferro
vê todos os seus aliados (e alguns figurantes) mortos e o culpando, mais a
disponibilidade do cetro de Loki, aka Joia da Mente, faz o projeto andar. Como
se alguma coisa boa pudesse sair da arma do vilão do outro filme. “Vejo uma armadura
em volta do mundo", diz o Gênio-Milionário-Filântropo e financiador dos Vingadores.


O conceito do Ultron é interessante e o diálogo que ele tem com Jarvis enquanto os dois são apenas aquelas projeções de energia é bom, mas o
vilão em si... Ultron não parece ameaçador (talvez na sua primeira encarnação, aquele
amontoado de peças, seja muito mais). Ele chega a ser engraçado. O robô é o
Frankenstein de Tony Stark e quer matar o pai, odeia ser comparado a ele, mas
até repete suas frases - o que custou o braço de Ullysses Klaue, futuro vilão
Garra Sônica no filme do Pantera Negra. O personagem fica falando de Deus, de passagens
da Bíblia. Após adotar como prerrogativa a paz no planeta Terra, por meio de
uma conversa gravada, ele rapidamente conclui que o problema daqui é o ser
humano e que só haveria paz se todos fossem exterminados. Ah, mas segundo ele a
humanidade teria toda oportunidade de melhorar antes de ser condenada à morte. Só não explica como. Lá pelas tantas, a inteligência artificial resolve
“recortar” parte de Sokovia do continente e usar o blocão de terra como um
meteoro. Se a Era de Ultron durou uma semana, foi muito.


Uma coisa que gerou muita comoção enquanto Era de Ultron
estava em cartaz foi a morte de Pietro Maximoff (Aaron Taylor-Johnsson) e o
tratamento dado ao personagem. Ele teve pouquíssimo tempo de tela e sua morte
serviu apenas para motivar Wanda. Qual a necessidade de inserir um personagem
clássico no filme só para matá-lo? Uma das cenas excluídas mostra Pietro distribuindo alimentos para um grupo de pessoas. Produtos estes que foram
furtados por ele, bem no estilo Robin Hood. Wanda até diz que ele devia parar
com esses crimes porque uma hora poderia ser BALEADO.
Vimos muito pouco do Pietro. O bom humor, o carinho pela irmã. Pouco, mas o
suficiente para gerar apego em parte do público. Ele poderia ter crescido. Aaron
Taylor-Johnsson é um ótimo ator. (Clique aqui e saiba mais sobre as outras cenas excluídas do filme)
Outro aspecto criticado em 2015 foi a redução dos poderes do personagem.
Pietro fica cansado ao correr, e um velocista que se preze jamais
levaria um tiro, ou uma rajada deles. Mercúrio teria tirado a criança, Clint Barton
e até o carro do caminho. As comparações com sua outra versão em X-Men: Dias
de Um Futuro Esquecido (2014) foram inevitáveis. No entanto, os irmãos Maximoff
do filme dos Vingadores não são mutantes (os direitos dos mutantes pertencem à
Fox), são chamados de aprimorados. Os gêmeos ofereceram seus corpos para serem
cobaias da Hidra na esperança de um dia destruir os heróis e Tony Stark,
fabricante da bomba que matou seus pais quando eram crianças. Então, se os
poderes deles vieram de experimentos nos porões da Hidra, mesmo com intervenção do cetro, falhas não
são absurdas. Havia até a teoria de que a morte de Pietro seria parte de um
acordo entre Marvel Studios e Fox para que ambas pudessem usar o personagem.
Pela lógica, Wanda seria a próxima a rodar...
Sobre o humor, Era de Ultron tem bons momentos, como a “Incrível
História do Máquina de Combate”, Visão erguendo o Mjolnir, mas algumas coisas
parecem ter sido escritas pelo pior tio do pavê. Quando Tony diz esperar que
Natasha e Bruce não estejam brincando de “esconder a abobrinha”, a vergonha
alheia é forte. Até uma piada com estupro acabou sendo atribuída a Stark.
Durante a festa de despedida de Thor, quando eles estão tentando tirar o
Mjolnir na mesa, ele pergunta se, caso fosse digno, poderia ser o rei de
Asgard. Tony diz que uma das suas primeiras decisões seria restabelecer a
prima-nocta (algo como primeira noite). Para quem não sabe, segundo a lenda,
era uma lei que permitia ao senhor feudal desvirginar qualquer noiva em sua
noite de núpcias. O conflito no filme Coração Valente começa assim.
Mesmo que não existam provas suficientes da existência da prima-nocta, é uma
piada de extremo mau gosto, para dizer o mínimo. Hoje a repercussão seria ainda
maior. Vale mencionar
aqui também o momento em que Bruce Banner cai com o rosto entre os seios de
Natasha Romanoff, momento que foi repetido em 2017 em outro filme que
passou pelas mãos do mesmo cineasta.


Clint Barton fazendeiro e pai de três filhos também dividiu
opiniões. Uma parcela da audiência gostou muito desta versão “local hero”, como
naqueles filmes em que um pai de família comum na verdade
era um soldado/policial/mercenário muito habilidoso pronto para servir o país
ou defender sua família/vizinhança/cidade para depois voltar à paz interiorana.
Para outros, esse background não funcionou por ter surgido “do nada” na
história e ser pouco crível. Há uma versão dos quadrinhos em que a família do
Gavião Arqueiro existe. No entanto, na época do filme, a série de Matt Fraction e David Aja – cujo primeiro número até fazia referência ao filme Os Vingadores –
era muito popular. Ali temos um Clint Barton mais urbano, solteirão, viciado em
café, que divide o apartamento com um cachorro.
A versão Globo Rural do Gavião agradou Jeremy Renner, insatisfeito
com o personagem no primeiro filme. A ideia que Era de Ultron tenta passar é de
que, apesar de ser o mais vulnerável dos Vingadores fisicamente – eles fazem
questão de brincar com isso o tempo inteiro no roteiro -, Barton acaba sendo o “coração”
da equipe, o que os une. Aí fez falta um “discurso motivacional” dele, eu acho.
Barton oferece a própria casa como abrigo para aquelas pessoas fora do comum. Ele
é o único que consegue passar para trás os gêmeos Maximoff (que não são
adolescentes, embora a história tente retratá-los como tal) e resolve bancar a
Super Nanny com os dois. Acho que este arco todo da fazenda, além de dar uma
pausa um tanto longa na ação do filme, envelheceu o personagem.
Passando para o Thor, em era de Ultron ele é o principal alívio cômico e responsável por ativar de vez o Visão (segundo Frankenstein do enredo). O filme meio que o mostra como amigo de todo mundo e até mais próximo de Steve, com quem divide algumas cenas e até golpes combinados. Thor, até por sua natureza (“Divina”? “Sobrenatural”?) é o único a ser induzido a ter uma visão do futuro depois da intervenção da Feiticeira Escarlate. Ele vê as Joias do Infinito e que Visão precisaria existir. Porém, a cena do filme que mostra isso foi mal executada. A que chegou aos cinemas tem Thor saindo da fazenda Barton para procurar respostas. O que ele faz? Vai atrás do doutor Erik Selvig na Inglaterra para acompanha-lo até as chamadas Águas do Vislumbre, dentro de uma caverna, onde poderá voltar ao sonho e entender o que está acontecendo. Thor então entra na água, começa a disparar uns raios e Selvig fica lá na beirada só olhando. Não faz o menor sentido.

Já a primeira versão da cena, que foi excluída, mostra Thor
chegando às Águas do Vislumbre com Selvig, ele ainda bebe de uma daquelas
garrafinhas de uísque dizendo que estava com medo. Lá dentro é recebido por uma
Norne (entidade semelhante às parcas da mitologia grega, responsáveis por tecer
o destino), ele entra na água com ela e é possuído. A Norne fala por meio do
Thor e responde às perguntas do Selvig, que daria as informações ao Thor quando
ele voltasse a si. Percebe a diferença? Conforme a direção, a cena da caverna foi uma exigência do estúdio para que todo o arco da fazenda de Clint Barton
não fosse cortado.
Outra coisa que foi retirada após uma exibição de teste foi a presença de Loki
naquele “inferninho” do pesadelo de Thor. As pessoas ficaram confusas achando
que o deus da trapaça estava controlando Ultron. Se as decisões foram boas ou
não, eles acabaram tirando os aspectos místicos que fazem parte do núcleo do
personagem...
No final do filme, Thor sai de cena para buscar as tais Joias do Infinito pelo
universo e fica dois anos nessa busca.
Deixei a Viúva Negra para o final por ter sido o aspecto que
gerou mais rejeição e até fúria por parte dos fãs. A Natasha Romanoff que
aparece em Soldado Invernal estava bem diferente. Na cena em que Natasha se
aproxima de Bruce, Steve chega dizendo a ele que acha legal o lance que está surgindo
entre os dois e, lá pelas tantas:
Bruce: Não. A Natasha só... Ela gosta de flertar.
Steve: Eu já vi ela flertando. Bem de perto. Não é desse
jeito.
A julgar pela conversa, Natasha é uma conquistadora..., uma “namoradeira”,
como diria sua avó. Só que ela não é. Dependendo do ponto de vista, você pode
dizer que ela tentou se aproximar de Steve em Soldado Invernal ou que ela era
só uma amiga brincando e tentando arrumar uma namorada para aquele homem tímido. Recordo aqui que, durante a divulgação, Jeremy Renner e Chris Evans deram aquela infame entrevista onde chamaram a personagem de vadia e prostituta.
Sei que muitos de vocês não gostam de falar de ship, dos
romances dentro dessas histórias, mas aqui não há como. Antes, as pessoas
pensavam duas coisas: que poderia haver algo entre Natasha e Steve, ou com
Natasha e Clint (os dois vividos pelos atores da entrevista mencionada ali em
cima). Esta última relação existe nos quadrinhos desde a década de 60 e mostrou
alguns sinais no primeiro Vingadores. Tudo era possível. Em Era de Ultron, o
roteirista achou por bem uni-la ao Bruce. São dois bons personagens. Não teria nenhum problema se a relação
tivesse sido bem construída, o que não aconteceu. O romance simplesmente surgiu
ali.
Os Vingadores pode levar a entender que Bruce Banner
consegue controlar o Hulk, mas deve ter sido só um engano dele. Em Era de
Ultron, eles desenvolveram uma técnica que consiste na Viúva Negra (e somente
ela, como vimos em Thor Ragnarok) hipnotizá-lo com alguns versinhos e o toque
das mãos. Imaginamos que pode ter sido um processo demorado, envolvendo
conversas dos dois e vários testes bem perigosos até chegar ao sucesso.


Ao longo do filme, acompanhamos as tentativas de Natasha de
seduzir o cientista, desde uma conversa na festa na torre dos Vingadores, onde
tanto no figurino quanto nas palavras, ela lembra uma femme fatale dos filmes
dos anos 40, até quando ela diz que devia ter entrado no chuveiro com ele. Até
o último minuto, Bruce a rejeita, enquanto Natasha quase implora por seu amor. Ele primeiro reluta, parece não entender por que é alvo daquela atenção, depois é
firme, dizendo que nunca poderá dar uma vida normal a ela. Por fim, ele se
rende.
Natasha se fragiliza, se expõe, sugere até que os dois fujam
dessa coisa de super-herói. A mesma Natasha que no primeiro Vingadores diz que
eles deveriam juntar os que sobraram após a destruição do Helicarrier para
continuar lutando, agora sugere que Banner e ela desapareçam.
Bruce, no papel do clássico "homem sensato e realista", insiste que não tem futuro, que não pode
dar uma família a ela, que não pode realizar seu sonho. É quando Natasha conta
que foi esterilizada em um dos processos finais para se tornar uma super-espiã russa.
Onde fui criada, fazem uma cerimônia de formatura. Eles esterilizam você. É eficiente. Uma coisa a menos para se preocupar. A única coisa que pode ser mais importante que uma missão. Torna tudo mais fácil. Até matar. Ainda acha que é o único monstro na equipe? E aí? Vamos desaparecer?
Então, Natasha se considera um monstro porque não pode ter
filhos? E o roteiro nem para colocar Bruce dizendo que a esterilidade não fazia
dela um monstro? E as mulheres estéreis que vão assistir ao filme? E as que não
querem ser mães? Foram as perguntas que surgiram. Outros tantos argumentaram que
ela se diz um monstro porque passou por intervenções para que fosse uma
assassina eficiente. E o diretor? O que tem a dizer sobre isso? Veja o que ele
respondeu em 2016 durante uma Answer Time no Tumblr:
Ela disse que ela era um monstro porque ela era uma assassina. Ser infértil a fazia se sentir antinatural, a fazia sentir-se isolada do mundo, mas eram as ações dela que a definiam, suas ações assassinas, isso era o que a palavra monstro significava. (Tradução via Observatório do Cinema)
Perto do final do filme, a Viúva Negra é raptada por Ultron
e levada ao QG dele sem qualquer motivo. De lá, é resgatada por Bruce
Banner, assim como Wanda é salva nos braços do Visão da destruição de Sokovia.
O arco da Viúva Negra não deixou o pessoal nada feliz e o
diretor foi cobrado no Twitter. As cobranças rapidamente deram lugar a muita
agressividade e ameaças. Ele deletou a conta, embora na época tenha dito que a
decisão não tinha nada à ver com o episódio.
Até hoje, algumas notícias e vazamento de roteiro depois, há quem não queira vê-lo trabalhando com uma personagem feminina outra vez.
Fato é que depois de Era de Ultron a Marvel Studios passou
por uma grande mudança, com a dissolução do Comitê Criativo da Marvel e a saída
de Ike Perlmutter. Mais ainda, segundo apurou a mídia especializada, a própria
Disney considerou Era de Ultron um fracasso, como você pode ler aqui.
Mesmo no início da fase autoral da Marvel Studios que
comentei nos outros textos, os bastidores ainda reservavam mais um tombo para
os fãs. Ninguém viu isso chegando. Mas,
que os erros tenham ensinado uma lição. Enquanto isso, aguardamos a terceira
aventura dos Vingadores com ansiedade sim, e um pouco de medo.
FICHA TÉCNICA
Vingadores: Era de
Ultron (Avengers: Age of Ultron)
Direção: Joss Whedon
Roteiro: Joss Whedon, baseado nas obras e personagens de Jack
Kirby, Stan Lee, Joe Simon, Jack Kirby, Jim Starling, Roy Thomas e John Buscema
Elenco: Robert Downey Jr, Chris Evans,
Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Anthony
Mackie, Don Cheadle, Paul Bettany, James Spader, Elizabeth Olsen, Aaron
Taylor-Johnsson…
Duração: 2h21
Estreia no Brasil: 23 de abril de 2015
Estreia nos EUA: 1º de maio de 2015
Orçamento: US$ 250 milhões
Bilheteria: US$ 1,4 bilhão
Prêmios e indicações: clique aqui
Fonte: IMDB, Box Office Mojo
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