MCU Revisitado: Doutor Estranho


 


O neurocirurgião Stephen Strange gostava de luxo e prestígio e só tratava pacientes que pudessem lhe garantir mais. Com memória fotográfica, aprendia as coisas rapidamente e sentia orgulho em exibir seu dom sempre que possível. Não se importava com coisas pequenas, pessoas pequenas.



Ele não queria perder tempo. Enquanto dirigia velozmente por uma estrada sinuosa, doutor Strange atende ao celular para escolher um novo caso e recebe uma imagem do exame para agilizar o processo. Tentando fazer os dois ao mesmo tempo, sofre um grave acidente.

A demora em encontrá-lo acaba comprometendo o atendimento e o médico fica com sequelas incapacitantes para o trabalho de sua vida. Strange perdeu “tudo” em um segundo de distração. Ele quer se curar rápido. Depois, ao descobrir as artes místicas, quer aprender tudo e depressa. Ao dormir, se projeta para fora do corpo para continuar estudando.

Lá pelas tantas em Kamar-Taj, descobre o Olho de Agamotto, a Joia do Tempo, capaz de fazer as coisas voltarem ao que eram antes, fazer o relógio andar para trás. Imagine ter esse poder. Ele poderia evitar a capotagem do carro, recomeçar de uma maneira diferente, fazer Christine amá-lo outra vez.



A Anciã é a detentora do conhecimento. Ninguém sabe sua idade ao certo, mas quando Mordo diz que ela é celta (povos que viviam no Oeste da Europa desde antes de Cristo) conclui-se que são milhares de anos. Ela caminha com a tranquilidade de quem não se surpreende com mais nada. Sua fala transmite paciência e ironia, como quem sabe que há coisas superiores às angústias humanas e que o universo é muito maior, e nem é o único.

No entanto, última de uma longa linhagem de magos supremos, ela precisa lutar contra a única certeza que todos têm na vida, independentemente do quanto a mente seja evoluída: a morte. Para continuar vivendo, ela drena energia do plano de um ser maligno onde o tempo não existe. Ela foge às leis naturais. Mesmo ao enxergar o próprio futuro e não conseguir ver além de um determinado momento, ela continua porque precisa estar ali. Ou por que tem medo?

Kaecilius, um dos aprendizes de Kamar-Taj, tinha grande potencial e se tornou um mestre. Ele procurou a Anciã em sofrimento e desilusão profunda por causa da perda da família (não é dito como ocorreu). Sabe-se que um dia Kaecilius descobriu como a Maga Suprema conseguia viver por tanto tempo e roubou o feitiço para tentar replicá-lo.



Uma das cenas mais emblemáticas é quando o vilão revela a Strange qual era o seu plano e a fé cega que o motivava. Lágrimas escorrem de seus olhos feridos enquanto ele fala sobre como o tempo e a morte são um insulto e fazer parte do universo de Dormammu poderia salvar o planeta dessas duas coisas. Ele acredita em um mundo sem morte, sem pressa e sem dor. Onde ninguém perderia ninguém, nunca mais.

Prestes a morrer, inclusive já fora do plano físico, a Anciã diz que Strange poderia deixar tudo e tentar retomar sua vida antiga se quisesse. Mas, como voltar após tomar ciência de tudo aquilo? Saber que nosso mundo está em perigo constante e não fazer nada? Como Christine havia dito, ele descobre que há outra forma de salvar vidas.

A relação com Christine também o ensina que nem tudo pode ser refeito. Quando a história começa eles já estão separados, mas não há hostilidade. Os dois são amigos e Strange ainda usa o relógio onde está gravada a declaração de amor que ela fez no passado. Até que ocorre uma discussão e ele a magoa muito. Christine se afasta. Ao perceber que estava errado, Strange tenta retomar o contato, pedir perdão, manda vários e-mails que a médica ignora. Quando se veem pela última vez, ele diz que não quer que ela vá embora, mas Christine vai. Live arbítrio. Não há nada que ambos possam fazer.

O Doutor Estranho derrota Dormammu ao levar o tempo até a criatura, prendendo-o em um loop onde estaria condenado a repetir o mesmo instante por toda a eternidade até implorar para ser “libertado”. Kaecilius e seus seguidores são absorvidos por Dormammu, onde passarão a fazer parte do “único”, mas não da forma doce como imaginavam que era.



Nos últimos instantes do filme, depois dessa longa jornada, Stephen Strange consegue controlar o tremor de suas mãos, com profundas cicatrizes, ao colocar o relógio (agora quebrado, também com “cicatrizes”) que ganhou de Christine. Solitário, ele fica parado contra a luz que entra pela claraboia em forma do Selo de Vishanti.

Neste texto quis deixar de lado essa coisa de bilheteria, se o personagem é popular ou não, se é um remake do primeiro Homem de Ferro, efeitos visuais vertiginosos, trilha sonora, etc, para focar no aspecto que eu mais gosto em Doutor Estranho: é uma reflexão sobre o tempo, vida e morte. Como lidamos com ele, como usá-lo ao nosso favor. É o filme mais espiritualizado (nem tinha como não ser) e único do MCU. Assista com calma.


FICHA TÉCNICA
Doutor Estranho (Doctor Strange)
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Jon Spaihts, Scott Derrickson e C. Robert Cargill. Baseado nas obras de Stan Lee e Steve Ditko
Elenco: Benedict Cumberbatch, Tilda Swinton, Mads Mikkelsen, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Benedict Wong, Benjamin Bratt, Michael Stuhlbarg…
Duração: 1h55
Estreia no Brasil: 2 de novembro de 2016
Estreia nos EUA: 4 de novembro de 2016
Orçamento: US$ 165 milhões
Bilheteria: US$ 677,7 milhões
Prêmios e indicações: clique aqui
Fonte: IMDB, Box Office Mojo

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