Avengers: Random & Fandom - Em nome do Pai: Wilson Fisk, Matt Mudock e a Narrativa Paterna




[ESSE TEXTO CONTEM SPOILERS SOBRE A SÉRIE] 




Nada mais onipresente do que a figura paterna na carreira da maioria dos super heróis, ocidentais. Hoje, na coluna,  vamos explorar o lado freudiano da figura paterna, em dois extremos: Wilson Fisk e Matt Murdock em Daredevil/Demolidor, série recém-lançada.

Abrindo parênteses, a série é genial. Bem dirigida e bem feita em todos os aspectos, com um elenco maravilhoso e muito consistente. É absurda de tão boa, viciante.

O episódio que me motivou a escrever a coluna de hoje foi quase todo sobre Fisk, o oitavo episódio, Shadows in the Glass, mas associar com a narrativa do próprio protagonista não é nada difícil.

Essa edição da coluna parte de um conceito por um estudioso freudiano chamado Jacques Lacan, o conceito se chama Em-Nome-do-Pai. De acordo com ele, a criança entra no mundo simbólico e social através da figura paterna.

As figuras paternas de Murdock e Fisk, definitivamente, mediaram a entrada dos dois no mundo social e moldaram as suas ideologias.


O pai de Matt, Jack, é um boxeador que aceita entrar no esquema de lutas compradas apenas para custear o sustento do filho. Por querer um futuro melhor para o filho, Jack estimula o menino a estudar e faz de absolutamente tudo pela sua cria. Apesar da vida difícil de ambos, o pai de Matt dá amor e carinho ao filho, também passa ao pequeno daredevil os valores idealistas de justiça e heroísmo que Matt carregaria a vida toda e levaria a criação do próprio  homem sem medo.


A história do pequeno Wilson Fisk é, infelizmente, o extremo oposto.

O pai de Fisk é manipulador e abusivo. A criança e a mãe são vítimas dos maus tratos, psicológicos e físicos, diários do chefe da família, que além de tudo ainda tem conexões com figuras perigosas do mundo das drogas. O pequeno Wilson tem uma luta diária para tentar agradar a esse tirano, e visivelmente se sente rejeitado, incapaz de corresponder às expectativas paternas.

O pequeno Fisk acaba por matar o pai, em defesa da mãe, com um martelo. A cena é absurdamente chocante. E emocionante. A narração do Wilson adulto também é marcante. É de catarse absoluta pra quem, como eu, tem problemas paternos desde a adolescência. O mais real desse episódio é que é muito empático. É muito crível, você se coloca nos sapatos de Fisk.



Justamente, porém, o menino se torna o homem que seu pai queria que ele fosse. Como o episódio usou de princípios psicanalíticos, a figura paterna ficou cravada onipresentemente no subconsciente de Fisk, de tal forma que nem ele se dá conta disso. Ele se torna o rei, exatamente com o pai diz que ele deveria ser. Ele é incapaz de perceber que o projeto dele de paz para a cidade é tão autoritário e injusto quanto o pai era com a mãe e o pequeno Fisk.

Todos nós, de uma certa forma, carregamos inconscientemente projeções das presenças ou ausências daqueles que nos criaram. Eu que o diga.

Então, podemos dizer que o embate de Fisk e Murdock é o embate de Jack Mudorck e Bill Fisk, estendido nos dois pequenos meninos que se tornaram dois homens opostos em seus projetos de salvação urbana.

Um embate em nome do pai.

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