Avengers: Random & Fandom - A construção da personagem feminina em Lady Sif e Viúva Negra

Avengers: Random & Fandom

A construção da personagem feminina em Lady Sif e Natasha Romanoff (Viúva Negra)

"Não se nasce mulher: torna-se." - Simone de Beauvoir

• Tema de hoje: Hoje, a vez é das mulheres. Escolhi minhas mais que amadas Lady Sif e Natasha     Romanoff/Viúva Negra para falar um pouco sobre a construção da personagem feminina não-convencional dentro do universo (cinematográfico, principalmente) da Marvel. Vou dividir em dois grandes tópicos dessa vez.

• Lady Sif: A mulher dos povos bárbaros

Lady Sif é, obviamente, uma clara construção da mulher da sociedade nórdica, especialmente daquela presente na mitologia nórdica. Desde os vestuários até o comportamento e o relacionamento com Thor, Sif retrata esse viés menos subserviente da mulher na sociedade dita "selvagem".

Na mitologia nórdica, ela é mulher de Thor e mãe de suas filhas, com longos cabelos louros trançados e uma aparência maternal, mas transcende isso por ser uma deusa guerreira. 

Claro, obviamente, que eu sei que nas sociedades bárbaras, a mulher também enfrentou uma série de problemas e entraves a sua liberdade, que ela não podia, "de peito aberto", pleitear um papel masculino. Mas havia sim uma maior liberdade feminina, pelo menos em relação a sociedade greco-romana e as sociedades do Oriente Médio, que são os parâmetros gerais da minha comparação.

Primeiro que na própria religiosidade, a maioria dos povos tinha como entidade-mor a Deusa, uma figura feminina de três fases. Depois que há casos registrados (na sociedade celta, ao que me lembro) de divórcio por vontade da esposa e todos sabemos também do festival de Beltane, uma grande celebração da fertilidade onde homens e mulheres deixavam aflorar sua sexualidade livremente.

A partir dos pontos acima, a Sif dos quadrinhos-cinema vai deixar de ser a "esposa do Thor" para virar uma das guerreiras aliadas ao deus. Sif, no filme, é muito mais que "a prometida" de Thor; ela é amiga dele, sua igual, sua aliada, que vai a Terra com os outros asgardianos de confiança do deus do martelo para ajudá-lo a voltar a Asgard. Ela também é uma das que descobre a traição de Loki e que se rebela contra a tirania do irmão de Thor.

No primeiro filme, pudemos notar isso bastante bem. Sif ajuda Thor na luta final contra o Destruidor, vale lembrar:

Lady Sif e seus modos de guerreira me lembram bastante aquele que talvez seja o mais impactante caso de poder da mulher numa sociedade bárbara: Da Rainha Boudicca. Vou deixar que Dio Cassius a descreva por mim:

"Boudicca era alta, terrível de olhar e abençoada com uma voz poderosa. Uma cascata de cabelos vermelhos alcançava seus joelhos; usava um colar dourado composto de ornamentos, uma veste multi-colorida e sobre esta um casaco grosso preso por um broche. Carregava uma lança comprida para assustar todos os que deitassem-lhe os olhos."

Boudicca era uma rainha que perdeu o marido. Este fez um trato com o Império Romano, que gentilmente o quebrou depois da morte do cara. Além de tudo, chicotearam e violentaram a esposa do falecido e as filhas. Então, a esposa Boudicca se tornou a líder do seu povo (os Icenos) e liderou um levante contra os romanos. E aí, manolo, Roma soube o que era uma mulher com raiva. Com raiva de verdade.

Boudicca botou O Terror nas áreas dominadas por Roma, conquistando muitos territórios dominados pelos romanos. Ela era feroz e cruel enquanto líder de guerra, nunca fazia prisioneiros e sempre que encontrava damas romanas, ela as decapitava e costurava seus seios a suas bocas.

Não lembra em nada as mulheres de Atenas do Chico Buarque né?

Lady Sif parece que vem nesse espírito de Rainha Boudicca nesse Thor - The Dark World, basta conferir  as fotos das gravações:

Espero ver muito mais da Sif nesse novo filme. Espero ver muitas bundas sendo chutadas pelo poder da mulher dos povos selvagens.

• Natasha Romanoff/Viúva Negra: A descendência de Mata Hari nos quadrinhos

Natasha foi criada nos anos 60, em meio a Guerra Fria. Nascida como uma vilã dos quadrinhos, em terras americanas, ela não podia ter outra nacionalidade: Russa. Sua trajetória nas HQs é longa e complexa, passando de vilã a espiã da SHIELD, com amores inúmeros e sempre causando polêmicas com seu passado "no vermelho, pingando a sangue", como diria o Loki. 

Nos filmes,a interpretação de Scarlett rendeu inúmeras polêmicas, pois houve quem afirmasse que ela não fez juz a Viúva das  HQs. Eu discordo, todos sabem. Mas, enfim, seja no cinema ou nas HQs, Natasha é a perfeita junção de sensualidade e perigo, dois lados opostos em uma mesma moeda.

Mas a ideia de espiãs belíssimas, perigosas e sensuais, trabalhando para mais de um lado ao mesmo tempo não é nova. Quem aí lembra de Mata Hari?

Mata Hari foi o alter-ego de Margaretha Zelle, que se apresentava como dançarina e dizia ser uma princesa da ilha de Java. Ela foi para a cama com vários homens, muitos dos quais famosos políticos e militares e dizia-se que atuou como "leva e trás" para lados diferentes durante a Primeira Guerra Mundial com os sussurros valiosos que conseguia na cama. Nunca foi confirmado, mas Hari foi levada a julgamento e executada na França por traição.

Outro caso de espionagem feminina vem da primeira superstar negra: Josephine Baker.

Americana de origem, se naturalizou francesa e se tornou sucesso com sua dança erótica nos teatros da elite parisiense. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela participou do movimento de resistência contra os nazistas.

Adivinhem como?!

Sim, espionando. E bem nos meios que a Hari usava. Cês entenderam.

E esse caso é confirmado, tanto é que depois da Guerra ela foi condecorada com a Cruz de Guerra das Forças Armadas e recebeu do presidente Charles de Gaulle o grau de Cavaleiro da Legião de Honra. Tá bom ou quer mais? Josephine sambando na cara das nazistas recalcadas!

Natasha é muito perigosa e paradoxal nas HQs. No filme, vimos mais o lado "espiã da SHIELD". Embora  valha lembrar que o Loki menciona o passado "no vermelho" dela, durante o diálogo deles no filme. Acho fabulosa a reação da Scarlett nessa cena e isso sempre me faz pensar em quais outras coisas não mencionadas ali, a nossa ruiva fatale andou fazendo.

Ah, há outra coisa sobre a Natasha que é adorável, nos filmes: A sequências de luta dela são perfeitas! Eu como praticante de Artes Marcais babo demais nos chutes e socos dela, desde o segundo Homem de Ferro, mas especialmente na cena de luta com o Gavião. E quem aí disse que é só homem que deve saber como dar porrada? Natasha divando e mostrando que luta é coisa pra mulher linda e gostosa SIM.

Marvel descartou, pelo menos por enquanto, a possibilidade de um filme solo da Viúva. O que é uma tristeza, visto que seria a perfeita oportunidade de redimir as tantas heroínas mal sucedidas em filmes solos que temos por aí, como Mulher Gato e Elektra. Tenho certeza que Natasha/Scarlett honrariam Baker e Hari e teríamos um incrível filme solo.

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Sobre a autora: Yasmim Yonekura, estudante de Letras Língua Inglesa na Universidade do Estado do Pará, futuramente monitora na mesma. Escreve a Coluna "Avengers: Random & Fandom", que é publicada quinzenalmente às sextas-feiras e busca misturar universo de filmes e, às vezes, HQs da Marvel com temas dos mais diversos, do corriqueiro ao filosófico. Apaixonada pelo Capitão América, pelo Batman, boa literatura, boa música e pelos caras errados. Todos os comentários, dúvidas, opiniões, contribuições e sugestões para a coluna são bem vindas, me ache no Facebook ou pelo e-mail, ainda tem o Twitter.