Avengers: Random & Fandom - Thor, o herói que foi, que é e que será

Avengers: Random & Fandom

Thor, o herói que foi, que é e que será

"Artur - meu irmão, meu amante, rei que foi  e rei que será."

Morgana Le Fay -   As Brumas de Avalon  - Marion Zimmer Bradley

Como em sonhos não pode ao fugitivo

Este alcançar, nem se livrar aquele:

Heitor assim de Aquiles não se livra,

Nem Aquiles o alcança. E Heitor o golpe

Evitara fatal, se ao lado Apolo

Não lhe aumentasse a força e a ligeireza?

Canto XXII - A Ilíada - Homero  

Vivemos no mundo do irreal onde tudo o que vemos é somente uma sombra imperfeita de uma realidade mais perfeita.

Platão

• Tema de hoje: Thor, o herói incompreendido. Vamos voltar as raízes para entender nossos guerreiro nórdico. Dedicado a Cristiane, que falou em nome do Thor e me fez abrir os olhos pra muitas questões interessantes.

Acho que preciso contar como nasceu a inspiração para esse post. Depois do post anterior do Loki, a nossa Vingadora Cris me propôs que tentasse explorar o lado do irmão mais velho, o Thor. Como toda história tem dois lados e os argumentos dela foram mais que extremamente convincentes, eu topei a ideia de o Thor ser o tema da coluna essa semana.

Apesar de ser o herói das HQs, em termos de popularidade, Thor é ofuscado pelo seu irmão mais novo, Loki. Thor é o supremo deus dos antigos nórdicos mas, nos dias atuais, a figura do irmão mais novo é muito mais poderosa em termos de amor dos fãs. Principalmente as mulheres. Não quero causar polêmicas, mas basta comparar a popularidade dos atores que os interpretam.

Thor é classificado como bruto, louro burro e não esforçado, que conseguiu tudo fácil na vida por ser o filho preferido de Odin.

Eu entendi ao longo das minhas reflexões e pesquisas que, na verdade, não é Thor em si o cativador de antipatias, nem nas HQs, nem no filme. A questão é o mundo em que vivemos.  Somos pós-modernos, a geração Coca-Cola, filhos da bomba de Hiroshima, do feminismo, filhos da feminilização do arquétipo de masculinidade, filhos de Nietzsche e da morte de Deus.

Mas o que a maioria não entende, é justamente que o Thor é filho de outra Era.

Thor, em HQs ou filmes, é a expressão fidedigna do conceito que os nórdicos tinham de seu deus do martelo. Thor é o herói que a sociedade nórdica precisava e, como uma alegoria, carregava em si todas as metáforas de perfeição e idealização que seriam o máximo que um indivíduo naquele contexto poderia chegar. Da aparência física ao psicológico, Thor é a perfeição nórdica encarnada. A comprovação disso é a sensação de ao ler a HQ Ragnarök estar lendo o poema nórdico antigo.

Thor é filho da Era dos Heróis, da Era que pariu nossos antigos modelos de coragem, honra, lealdade e superação; de onde vieram Rei Arthur, Aquiles, Heitor, Teseu. Filhos da guerra, da necessidade de lutar pela pátria, pelo ideal, pela nação ou por qualquer coisa que acreditassem. Esses homens eram imagens da perfeição para o seu povo e eram muitas vezes endeusados, idolatrados. 

Daí, na verdade, veio a noção de semi-deuses na Grécia Antiga: homens e mulheres que eram tão sobrenaturalmente incríveis em algum aspecto que o povo grego teve de vinculá-los a alguma entidade divina para tornar crível a noção de que um ser com tais qualidades pudesse existir em carne e osso.

E na própria Grécia temos a perfeita teoria para embasar essa necessidade do homem de algo mais. Platão, uma das bases mais firmes da Filosofia de todos os tempos, postulou que nossa realidade é na verdade a sombra distorcida de um mundo perfeito, onde as coisas têm suas formas verdadeira e sublimadas. Esse é o chamado mundo das Idéias.

Ao meu ver, os heróis e deuses seriam então uma forma do homem de projetar tamanha perfeição no nosso mundo. É isso que o Thor é, uma projeção.

Mas ao contrário de Steve Rogers, ele não espelha uma nação, mas sim os ideais perdidos de um povo e tem sim personalidade própria. Thor tem a personalidade dos homens de seu tempo: ele é másculo, guerreiro e leal, trazendo imbuído a isso os atributos da força bruta e de um caráter incorruptível, cheio de bravura. 

Thor não é inteligente e sensível não. Não é mesmo. E nunca será. Por que ele é um guerreiro,  a sensibilidade nunca o ajudaria na hora de matar seus inimigos e liderar um exército. A inteligência de Thor resiste no seu martelo. E é disso que ele precisa apenas para guerrear, para a batalha (ao contrário dos romanos, os nórdicos nunca foram conhecidos por estratégia bélica, mas pela impressionante e assustadora fúria de seus ataques).

Thor é um herói, Thor vê em preto e branco, Thor é um deus nascido para a batalha e forjado a fogo e sangue. Thor conhece a brutalidade e a dor, não há meios termos. Thor não é um irmão mais velho folgado e tirânico, Thor é criado da guerra e um guerreiro excepcional. 

Mas acima de tudo, Thor é um herói.

Thor é o herói de outros tempos, a chama furiosa e incandescente que veio para nos lembrar da outra Era. A chama da glória e da bravura. 

Deixei Heitor versus Aquiles na citação do começo por que me lembra muito Thor versus Loki, eu gosto de ambos, tanto que escrevi sobre ambos, e tento ver o lado dos dois. Nenhuma história tem só uma versão. 

Vou encerrar com o vídeo dos Heitor vs Aquiles no filme Tróia, por que nenhuma luta nunca foi tão antiga ou tão bela, nem nunca será e para lembrar que, como George R. R. Martin disse, o herói de um lado é o vilão de outro.  E vice-versa.

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Sobre a autora: Yasmim Yonekura, estudante de Letras Língua Inglesa na Universidade do Estado do Pará, futuramente monitora na mesma. Escreve a Coluna "Avengers: Random & Fandom", que é publicada quinzenalmente às sextas-feiras e busca misturar universo de filmes e, às vezes, HQs da Marvel com temas dos mais diversos, do corriqueiro ao filosófico. Apaixonada pelo Capitão América, pelo Batman, boa literatura, boa música e pelos caras errados. Todos os comentários, dúvidas, opiniões, contribuições e sugestões para a coluna são bem vindas, me ache no Facebook ou pelo e-mail, ainda tem o Twitter.