Avengers: Random & Fandom - Steve Rogers e a construção da identidade americana

Avengers: Random & Fandom 

Steve Rogers e a construção da identidade americana






"Um homem pode morrer, uma nação se erguer ou cair, mas uma idéia vive sempre."

(John F. Kennedy)



  • Tema de hoje: Capitão América e o modo como os americanos se vêem (e se mostram ao mundo).

O que as pessoas não entendem sobre o erguer de um império é que, acima de bens materiais, está a parte ideológica. Quer dizer, Roma não seria Roma se não fosse por toda a pompa e o tom épico que os romanos deixaram para trás com a construção da imagem de "maior império do mundo".

E a nossa Roma dos dias atuais conseguiu erguer um império ainda mais ideologicamente forte em tempos de globalização. Os Estados Unidos espalharam seus hábitos, sua cultura, seus ideais, sua língua de tal forma que mesmo com o declínio sócio-econômico, séculos serão necessários para que o efeito da propaganda perca seu brilho.

E nos Vingadores a gente tem uma prova viva disso. Claro que eu falo do Capitão "Steve Rogers" América.




Ao contrário do Batman, Rogers não é o alter-ego do Capitão. Rogers é o Capitão América 24 horas, nunca precisando ocultar essa identidade e, ao contrário, orgulhando-se dela. Já começa aí a ideia de Orgulho Americano: para ser o herói de uma nação, você deve sempre se orgulhar dela - basta olhar o uniforme do Captas.

Historicamente, o nosso Steve nasceu na Segunda Guerra Mundial, como uma manobra dos EUA no mundo das HQs para se erguer contra o Eixo (lembremos a clássica capa do Steve dando um soco no Hitler). O personagem deu certo e vicejou dentro do Universo Marvel, sendo por fim incorporado como líder da mais emblemática equipe Marvel: Os Vingadores.

A América é uma nação egocêntrica. Steve deixa isso bem claro para nós, usar a bandeira americana no uniforme e no escudo é um apelo visual para nunca ninguém esquecer as raízes do herói. E a própria escolha de um ator para incorporar o Steve foi uma manobra pra reforçar a ideia que os EUA tem de si mesmo e querem mostrar ao mundo: um galã perfeito foi selecionado; o clássico americano alto, forte e de olhos claros. O top da América Anglo-Saxã e protestante. O estereótipo do estereótipo.


Além de envergar os símbolos visuais americanos, Steve enverga também seus preceitos. Cristão (protestante, provavelmente), como nos prova o diálogo com Natasha: "Eu só conheço um Deus e ele não se veste assim"; um cavalheiro a moda antiga (o romance mela cueca com Peggy Carter nos prova isso) e fiel (vale lembrar da amizade com o Bucky).

É isso que a América quer mostrar de si própria para o mundo.

Nem tudo são flores, entretanto. Steve é de longe um dos heróis com maior problema existencial em Os Vingadores. Porque o mundo mudou, avançou, o niilismo chegou, Nietzche disse que Deus (seja lá qual roupa ele use) estava morto, as mulheres tomaram o poder e a tecnologia domina tudo (lembrem-se do primeiro encontro entre Fury e Steve). É por isso que o Steve soca os sacos de boxe, para tentar se encontrar, para tentar evadir sua fúria e medo do deslocamento

Não é só Steve quem passa por essa crise. A América também passa. O Século XX terminou e a hegemonia americana se vê financeiramente ameaçada por China e outros países emergentes. A América mesmo está convulsionada em crise; há o legado dos beatniks, há os pobres e revoltados excluídos e não mostrados que agora se multiplicam com a crise econômica.

Há os negros, os índios massacrados. Os divórcios, as raízes pagãs pré-cristãs. A América está num uniforme nas HQs, mas ultimamente não conhece a si mesma.

E Steve com seu choque em relação a modernidade é a América emergindo no século XXI: seus preceitos caíram, sua realidade mudou, problemas que transcendem sua compreensão estão surgindo. Tal qual Steve, a América tem que se adaptar, custe o que custar, ou sucumbirá nos próprios medos.

A questão é: conseguirá?



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Sobre a autora: Yasmim Yonekura, estudante de Letras Língua Inglesa na Universidade do Estado do Pará, futuramente monitora na mesma. Escreve a Coluna "Avengers: Random & Fandom", que é publicada quinzenalmente às sextas-feiras e busca misturar universo de filmes e, às vezes, HQs da Marvel com temas dos mais diversos, do corriqueiro ao filosófico. Apaixonada pelo Capitão América, pelo Batman, boa literatura, boa música e pelos caras errados. Todos os comentários, dúvidas, opiniões, contribuições e sugestões para a coluna são bem vindas, me ache no Facebook ou pelo e-mail, ainda tem o Twitter.

4 comentários:

  1. Na verdade por duas vezes o Capitão teve identidades secretas.

    E já existiram vários Capitães como Isaiah Bradley, John Walker..

    Enfim, se for sobre o filme, o artigo está correto. Mas sobre as histórias do personagem 616, o artigo fica péssimo.

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  2. "Ao contrário do Batman, Rogers não é o alter-ego do Capitão. Rogers é o Capitão América 24 horas, nunca precisando ocultar essa identidade e, ao contrário, orgulhando-se dela. Já começa aí a ideia de Orgulho Americano: para ser o herói de uma nação, você deve sempre se orgulhar dela - basta olhar o uniforme do Captas."

    Como eu disse anteriormente, ele já teve identidades secretas várias vezes. Ele já abandonou o uniforme e virou somente Capitão, virou o Nômade e várias outras vezes.


    "E a própria escolha de um ator para incorporar o Steve foi uma manobra pra reforçar a ideia que os EUA tem de si mesmo e querem mostrar ao mundo: um galã perfeito foi selecionado; o clássico americano alto, forte e de olhos claros. O top da América Anglo-Saxã e protestante. O estereótipo do estereótipo."

    Se a adaptação é de Steve Rogers, ele deveria ser assim. Lembrem-se que ele é o mais conhecido mas não foi o único.

    http://marvel.wikia.com/Captain_America

    "Há os negros, os índios massacrados. Os divórcios, as raízes pagãs pré-cristãs. A América está num uniforme nas HQs, mas ultimamente não conhece a si mesma."

    Lembrando que ele não é o único com bandeira no uniforme. Capitão Britânia, Solaris, Guardião (Tropa Alfa) e vários outros personagens também representam um país só que a maioria os ignora. ^^

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  3. Sim, Caio, a proposta do artigo é em relação ao filme. Até pq eu conheço pouco ou nada do Steve nas HQs e o blog (vingadores a depressão) é de abordagem cinematográfica.

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  4. Olha Parabéns Yasmim e organizadores do Blog informação de qualidade e saindo a todo momento,vcs estão de parabéns pelo trabalho feito,superior a muito blogs por aí.Essa foi a melhor matéria que li de vcs e olha que acompanho-os há menos de 6 meses,continuem com o o blog e eu sugiro mais podcats,porque o último que li falando das futuras produções da Marvel Studios foi amazing,Sensational Girls and Guys!

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