Avengers: Random & Fandom - Quadrinhos, subversividade e polêmica

Avengers: Random & Fandom

Quadrinhos, subversividade e polêmica




"Vi Veri Veniversum Vivus Vici"
("Através da Verdade, eu, enquanto homem, conquistarei o mundo")
Fausto - Mallory
Veja seus jovens lutando


Veja suas mulheres chorando
Veja seus jovens morrendo
Da maneira que sempre fizemos antes


 Civil War - Guns and Roses


  • Tema de hoje: Quadrinhos carregam o esteriótipo de gênero infantil, mas o quanto isso é verdade? Vamos hoje explorar algumas obras (selecionadas por mim) dos quadrinhos que trazem uma carga adulta e como, antes de serem uma obra mercadológica, funcionam como veículo de reflexão e crítica social.


O tema dessa coluna veio a mim numa noite em que eu lia V de Vingança. Mamãe entrou no quarto e disse, ao me ver lendo: "Mas tu tá lendo gibi?". Entendi que ela me achava velha demais pra ler coisa de criança, já que para ela as HQs são um gênero infantil. Não acho que mamãe tenha sido propositalmente preconceituosa, creio que ela só abraçou o conceito tradicional de "gibi" e a ideia de infantilidade.

Acho que muitos dos leitores do blog já acompanham as HQs. Eu mesma conheço alguma coisa, embora nunca vá me chama de profunda conhecedora. Mas já li várias HQs do Batman e, quando era mais nova, comprava as histórias do Morcego mensalmente (hoje em dia não tenho mais tempo, nem dinheiro para isso) e já li alguns dos consagrados épicos do Cavaleiro Negro de Gotham, como o Arkham Asylum e outros. Também já li Watchmen e V de Vingança, duas das forças motrizes da coluna de hoje.

Entre os homens, sempre ouvi comentários sobre o preconceito que sofrem com as namoradas, que julgam a leitura de HQs uma das coisas mais infantis entre alguns dos tão estranhos hábitos masculinos.

A questão é que a HQ nasceu como um gênero dirigido ao público infantil. Os primeiros traços e os enredos das primeiras histórias marca bem esse fato. Mas conforme o público que o acompanhava cresceu, as histórias em quadrinhos também evoluíram. Em todos os sentidos possíveis, da forma, estrutura, desenhos e enredos. Foi nessa evolução que certas HQs quebraram a barreira do entretenimento e se tornaram verdadeiras obras épicas cujo cerne traz assustadoras reflexões sócio-humanísticas. Essas obras trouxeram a tona características antes vinculadas a produções alternativas e criaram a categoria da graphic novel.

A primeira HQ desse quinhão que entrei em contato foi Watchmen do consagrado Alan Moore. Eu li devido a estréia do filme do Zack Snyder, muito crucificado, mas que, ao meu ver, para as proporções de uma obra como Watchmen foi bem feito. O enredo é uma realidade paralela em que os super heróis existem e o super homem é uma mutação azul gigante que vence a guerra do Vietnã para os EUA, o chamado Dr. Manhattan. Os EUA da década perdida estão a beira de uma guerra nuclear com os soviéticos e o assassinato de um super-herói entremeia a tensão sócio-política.

A obra conseguiu questionar conceitos éticos e brincou com o conceito de super-poder; questionou cânones sócio-políticos e trouxe personagens que pendem do heróico ao monstruoso. Watchmen conseguiu nomeações e prêmios dignos de Duma e Saramago e quebrou o arquétipo da infantilidade no mundo em quadrinhos.

Apesar das críticas, para mim, o filme de Snyder conseguiu ser fiel a essência brutal da HQ. O grande problema de Watchmen foi que a obra chegou cortada aos cinemas; dá para entender o quanto o diretor foi fiel a obra quando você vê "O Cargueiro Negro", um DVD cheio de extras. O DVD de Watchmen com a versão do diretor, lançado alguns meses atrás, foi muito elogiado e tem uma visão bem mais fiel da obra original.




Da mesma fonte (gloriosa), Alan Moore, veio V de Vingança. Nessa outra história, Moore traz uma visão pós-apocalíptica de uma Inglaterra pós-guerra nuclear, imersa numa ditadura fascista. A "salvação" vem através de um mascarado misterioso chamado V, que pretende trazer o caos para alcançar a liberdade e se vingar do governo. 

Em termos psicológicos V é muito profundo. É uma obra que mexe e desafia o leitor a cada página, é algo muito polêmico e subversivo. Na graphic novel, V chega a um nível de frieza que beira a psicopatia, quando a intenção é atingir o objetivo proposto. Creio que a carga filosófica de V de Vingança seja bem mais pesada que a de Watchmen. Em V, eu vejo muito mais questionamentos e reflexões direcionadas ao "eu" do leitor do que na obra dos vigilantes, que já traz muito mais uma crítica social.

A obra foi também adaptada ao cinema, mas foi outra adaptação massacrada pela crítica. 



Mas se é para falar de Polêmica e Subversividade, a Marvel tem um exemplo no mínimo épico para nos oferecer. É a saga da Guerra Civil. Essa eu ainda não li, mas todo mundo que conhece um pouco o mundo das HQs, já ouviu falar da Guerra Civil... Segue a sinopse:

Após a atuação desastrosa de um grupo de heróis adolescentes que acaba na trágica morte de dezenas de pessoas, o governo norte-americano decide aprovar uma lei que obriga a todos os heróis a revelarem sua identidade e passar por treinamento, tornando-se assim uma super-força policial. Alguns heróis, encabeçados pelo Capitão América, se opõem a essa lei por considerá-la contra um dos preceitos básicos da nação, a liberdade. Em decorrência disso uma verdadeira guerra se inicia entre a facção do Capitão América e a outra parte encabeçada pelo Homem de Ferro.

 Ontem mesmo, um amigo meu, o Helder, me emprestou a Guerra Civil e eu vou começar a ler o mais breve possível e necessito fazer uma coluna sobre essa HQ, que parece no mínimo épica. A  HQ já é uma bomba ambulante pelo simples fato de ter o Capitão América, seguidor da razão e da ordem, honrável homem americano, se rebelando. O mais impressionante é ter o rebelde Tony Stark como opositor da rebelião e rival de um antigo colega de equipe. As consequências e frutos dessa guerra são no mínimo catastróficas para os heróis, pois praticamente todas as estruturas sólidas e conhecidas do Universo Marvel são categoricamente abaladas ou destruídas durante a saga.




A questão que me acendeu na mente e é alvo de luta constante entre leitores da Marvel é a adaptação cinematográfica da Guerra Civil. Veja bem, o quadrinho em si mesmo já é polêmico, nem todos os leitores gostam ou aceitam o enredo e os que o fazem, chegam a venerá-lo. E levar aos cinemas é outra questão digna de guerra civil. Muitos veneram a ideia  mas outros a condenam até o inferno. A questão vai subindo a tona aos poucos, cada dia mais, com a adaptação de várias obras, e o entrecruzamento delas, nas telonas da Marvel.   Óbvio que topamos com os problemas de direitos autorais, já que os direitos autorais de heróis da Marvel estão espalhados por aí, por entre vários e diferentes estúdios. 

Para falar sobre a possibilidade, consultei nossas Vingadoras, Cris e Gabi, segue a opinião das moças:




  • Gabriela:


Eu gostaria muito de ver uma adaptação da Guerra Civil para o cinema. Mas, veja bem, por mais que essa ideia me atraia, acho muito difícil que de fato aconteça. A adaptação da obra imprimiria um novo olhar sobre os super-heróis, eles seriam mais profundos, soturnos e menos Disney. Entra aí o interesse de mercado. Por que a Disney iria arriscar assim a visão que a população tem dos super-heróis já imortalizados? A gente tem um Capitão América contra o governo, por exemplo, não é o Capitas(como a Yas gosta de dizer) que estamos aptas a ver. Acredito que no momento em que vivemos essa adaptação não seja tão interessante assim.  Constantemente os heróis são revisitados, revistos, reescritos (Hello, Batman!!) pode ser que daqui a algum tempo isso venha a acontecer. Só nós (no caso, me) resta torcer.

  •  Cristiane:

Acho a adaptação de Guerra Civil inviável de todas as maneiras possíveis: tamanho da história, personagens nas mãos de outras empresas, entre outros fatores. Vou além, e digo que sou até contra um filme de Guerra Civil. Isso por que a Marvel Studios destruiria o universo que demorou anos para estabelecer. Sem falar da imagem do seu principal astro, o Homem de Ferro, que se revela um grande fdp traidor. Morte do Capitão América? Qual criança quer ver isso? Eu tenho 23 e não quero. Seria um grande tiro no pé de quem visa o lucro. E nessa linha "para toda a família"  a Marvel Studios tem entregado produtos de qualidade sempre. Que continue assim. Não quero que Os Vingadores 2 seja o próximo Watchmen, por exemplo.




Eu particularmente adorei as opiniões, pois são perfeitamente os opostos que eu queria ilustrar. Não vou dizer que Gabi ou Cris estão erradas ou certas, porque eu mesma não sei o que pensar da Guerra Civil. Acho que eu sou inferior as meninas, no sentido que não consigo sair de cima do muro. Eu olho, olho, olho, reflito e reflito e não decido, por isso vou usar a opinião delas, destrinchar alguns pontos.

Percebam que ambas concordam que em termos de mercado, a Guerra Civil é extremamente perigosa. Não só em termos de mercado, mas de mercado e ideologia, visões pré-estabelecidas. Não seria conveniente a Hollywood e ao mercado dos produtos infantis destruir seus produtos de maior lucro. A Cris bate no ponto do mercado infantil, que seria abalado ao extremo com a Guerra Civil nos cinemas. Mas Gabi traz o ponto de que num futuro onde os super heróis possam ser revisitados, revistos, isso seja possível.

Apesar de ainda não conseguir decidir exatamente, eu digo que a Guerra Civil seria no mínimo um enorme choque. O público não está pronto para ver esse tipo de coisa, pelo menos não agora. Seria uma festa total para os fãs das HQs e da saga em especial e sem dúvida, seria uma reflexão filosófica e um desafio delicioso de analisar, mas ainda assim muito perigoso. A minha impossibilidade de decidir pelo sim ou pelo não é por que cai num eterno buraco de possibilidades positivas e negativas que me fazem tremer nas bases.

A Guerra Civil faz plenamente jus ao tema de hoje. 

Subversiva até o fim.

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Sobre a autora: Yasmim Yonekura, estudante de Letras Língua Inglesa na Universidade do Estado do Pará, futuramente monitora na mesma. Escreve a Coluna "Avengers: Random & Fandom", que é publicada quinzenalmente às sextas-feiras e busca misturar universo de filmes e, às vezes, HQs da Marvel com temas dos mais diversos, do corriqueiro ao filosófico. Apaixonada pelo Capitão América, pelo Batman, boa literatura, boa música e pelos caras errados. Todos os comentários, dúvidas, opiniões, contribuições e sugestões para a coluna são bem vindas, me ache no Facebook ou pelo e-mail, ainda tem o Twitter.

Um comentário:

  1. Sobre o tema da guerra civil no cinema, acho q pode acontecer, só teria q ser menos parecida com a saga dos quadrinhos, tipo, com o proximo filme do Tony, acho q daria pra colocar ele num tom mais humano, bebado e falho, mas o fato é que nem tudo tem q ocorrer como aconteceu na guerra civil, como a morte do capitao, como fariam para ressucita-lo? novo filme? seria dificil! claro que provavelmente nao acontecerá, mas seria muito bom, até pq a guerra civil aborda temas que nem sempre são só para adultos, como o conceito de amizade, porém na menoria das vezes esses conceitos não são adultos, mas quem sabe! pela polemica, daria lucro, e não é isso q eles querem?

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